terça-feira, 23 de setembro de 2008

SEXUALIDADE, AMOR E CASAMENTO


Os padrões que conhecemos e adotamos para casamento são uma grande invenção da era burguesa.
A questão do amor, sexo e paixão, que de alguma forma fundamentam o casamento, é algo da modernidade e foi uma mudança social. Há um percurso tortuoso entre AMOR se transformando em CASAMENTO, salpicado pela questão do SEXO, com uma MORAL questionável quase sempre.
A questão não deve ser tratada de forma “Hollywodiana”, ou com impulsos dramáticos de Shakespeare, e também deve perder expectativas e idealizações absurdas, apesar dos diversos formatos que assume graças a novelas, filmes, idéias do senso comum que causam na verdade frustração por serem tão diferentes na vida real.
Devemos ter um padrão “universal” a dois para uma boa relação, sem idealização, com tolerância e tentativas de simbiose. A sociedade muda, valores mudam, tudo é mutável, então a relação também deve ser, porém buscando o bem de ambos.
O amor já foi desnecessário no casamento, e esta incorporação é relativamente recente, coisa que começou por volta do século XVIII, quando sexo começou a ser importante na relação. Antes, era natural e comum vier em adultério, sexualidade não era algo de prazer a dois, e no casamento, visava apenas a reprodução, fato que também sofreu grande mudança nos dias atuais, onde muitos casais optam por não ter filhos.
A fecundidade já foi algo indispensável ao casamento, da mesma forma, a total e absoluta fidelidade da mulher, e o adultério (da mulher é claro), podia implicar em abandono ou morte e a esterilidade levava ao repúdio total, ao isolamento nos “bons tempos medievais”.
Cristianismo, ah, o cristianismo... com a queda do Império Romano e a expansão do cristianismo no século V, a Igreja aos poucos vai tomando conta da questão do casamento, exercendo poder e tendo domínio sobre a questão. De pequenos e modestos rituais séculos mais tarde instituiu o casamento como “espaço legítimo para o sexo”, exclusivamente para procriação.
O cristão pregava (e dependendo do cristão de hoje, ainda prega) a virgindade, a castidade e a continência, na busca do reino dos céus.
Apenas no século XII o casamento foi sacralizado pela Igreja e tornou-se monogâmico e indissolúvel. Daí também, o rito saiu da casa e foi para a igreja e passou a ser realizado por um padre.
As castrações da igreja, as proibições ao prazer, aos métodos para evitar filhos, e outros, foram sendo superados e ignorados socialmente. Os cruéis véus de dominação da ilusão da igreja vão sendo substituídos por valores mais reais e necessários à felicidade.
A modernidade trouxe grandes mudanças, evoluções nas relações, e apesar de não responder ou solucionar todos os problemas possíveis em relações conjugais, trouxe a possibilidade de uma vida a dois com menos hipocrisia, ou até sem ela.
A pior parte da modernidade com relação a problemas está provavelmente na idealização e nos conflitos e frustrações que surgem a partir das expectativas.
Antes da moral cristã, a moral era estóica e também defendia a procriação como motivo para o casamento. Um sábio homem estóico devia amar sem paixão e ser marido e não amante. O amor com paixão devia ser buscado fora do casamento. Os cristãos usaram a moral dos estóicos e ultrapassaram o limite da castração do prazer.
O prazer pode ser obtido de diversas formas, porém em uma mesma relação, as variantes são poucas. Devemos manter o “amor-paixão” aceso, e o sexo deve ser prazeroso e freqüente para ambos sempre.
A relação deve ser igualitária com valorização da amizade na relação, na confiança e a última coisa para que o sexo deve servir é para a procriação.
O sexo é uma experiência única e afetivamente diferente para cada um de nós, ainda que em um mesmo relacionamento. É um complexo emaranhado de conceitos e valores sociais, morais, emocionais, traumáticos, religiosos, enfim, fenômenos que fazem com que apreciemos, sintamos e desejemos o prazer de uma forma definida. Uma vez que somos contaminados por valores de diversas fontes e de formas diferentes, as formas que damos ao sexo também difere segundo nossas ideologias e valores.
Vivemos períodos de grande repressão sexual, depois de grande liberdade sexual, depois retornamos a um novo período de repressão ou de medo sexual, e não podemos negar que elementos do gênero tem grande relevância em nossa transformação pessoal e culminam por regular a verdade livre de nossa sexualidade.
MUITOS dos que estão lendo este texto, sabem de alguém que se casou com 12 ou 14 anos, normalmente mulheres. Isso já foi normal. Novos discursos disciplinadores e legais, transformaram algo assim nos dias atuais em pedofilia.
Perceba, de forma alguma faço apologia à pedofilia ou estou de acordo com o ato, mas o desenvolvimento desse tipo de moral exacerbada acaba permitindo que pessoas que poderiam ser tratadas antes de cometer algum ato contra um menor, permaneçam escondidas cometendo crimes até um dia serem presas por um erro qualquer. Daí, existe um exagero na caça aos pedófilos.
Exceto a pedofilia, que é um problema real sim e deve ser combatido, mas não como tem sido feito, temos as opções sexuais de pessoas que gostam, por exemplo, de sodomia, perversões diversas, etc. Desde que nenhuma seja forçada a praticar atos contra a sua vontade, ninguém deveria ser discriminado.
O sexo é um ato de prazer, e quando existe com amor, melhor (opinião minha), porém, não deve e não pode ser transformado em controle, em dispositivo de discriminação, condenação, censura. Não podemos nos esquecer que há um elemento que TODOS prezam, porém não percebem quando condenam algo: LIBERDADE!
Na Grécia antiga existiu a bissexualidade, e hoje no século XXI temos o pluralismo sexual, uma evolução a meu ver, desde que possa ser escolha individual. Cada ser pode ter sua própria história, e esta pode ser diferente, então a diversidade deve ser respeitada.
Grandes mudanças vêm acontecendo. Amor, casamento, sexo, valores de intimidade, romance, individualismo a dois, etc. A emancipação feminina teve um grande papel, porém mesmo hoje ela parece ser carente de uma real afirmação, graças a certos conflitos e carências vividos por mulheres. Na verdade, independentemente do sexo, as pessoas andam perdidas em valores e emoções.
O sexo em uma relação onde obviamente existe amor, pode ser vivido em alguns momentos com paixão e em outros somente sexualmente. Ainda que paixão e amor não sejam demonstrados todo o tempo, saber que ele está presente é também uma variação aceitável e necessária muitas vezes. Como dizia o grande poeta: “beleza não se põe na mesa, mas eu não como no chão”, então muitas vezes, o fato de sentir desejo está sim diretamente relacionado à emoção e ao amor.
O casamento formal ainda hoje (em muitos casos) é hipócrita e de fachada, então o valor que se dá a ele, seja qual for a aparência que ele tenha, é o que realmente conta e o que faz dele belo.
Socialmente, hoje temos o casamento formal, consensual, heterossexual, homossexual, para procriar, para não ter filhos nem f... (literalmente), e todos são processos onde é possível haver amor e intimidade. A sociedade precisa se tornar tolerante e acolher todas as modalidades de relação amorosa, pois isso faz parte de evoluir, viver em paz e ser feliz.

VOCÊ ACHA QUE COM UM ANIMAL É DIFERENTE?


NUNCA SE ESQUEÇA DISSO!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

FATO SOCIAL - Durkheim


Durkheim descreve basicamente algumas características diferentes relacionadas a fatos sociais: a coerção social que é uma força que os fatos impõe aos indivíduos, sublimando sua vontade e escolha, como quando este fica submetido a um tipo de formação familiar ou a um certo código legal, a característica espontânea que surge de uma conduta qualquer com base em adaptação às estruturas do grupo ao qual pertence. O fato social é coletivo e geral.

O fato social é condicionador, interferindo e causando uma forma social de ação, determina normas, sendo estas jurídicas ou não, e padroniza um comportamento coletivo regrando a vida social.

Em Direito, podemos pensar sobre se este faz a realidade social ou se a realidade social faz o Direito. O Direito estipula e formula normas de comportamento e a realidade social também cria e modifica o direito.

O Direito e a forma de influência deste na sociedade e desta perante o Direito, mostram um tipo de comportamento, uma expectativa comportamental estipulada para a ação das pessoas.

Outro fato social muito cotidiano é a moda, que aparece em diversos setores da sociedade, relacionados a atividade política, econômica, social, religiosa, científica, regida pelo grupo em si e por concepções estéticas predominantes em um grupo ou época.

A moda, como quase tudo atualmente, encontra-se globalizada e é um grande negócio e fator de manipulação social, com o comando das indústrias da área e com grande influência dos meios de comunicação.

Não podemos nunca deixar de considerar a interdisciplinaridade quando pensamos em fato social, o que inclui entre outras coisas economia (capital, trabalho, terra) e todos os reflexos que causam na vida social.

Diversas áreas de Direito, como o Tributário, Financeiro, Direito Econômico, influenciam diretamente os meios de produção, os salários e legitimam as atitudes de mercado determinando todos os tipos de comportamento social.
Um aspecto muito curioso é o do suicídio como fato social. Em literatura podemos apreciar a predominância individual do suicídio, assim como na vida real. Claro, não podemos negar ou desprezar os motivos individuais e a psicologia da questão, como nos diz Durkheim:

“Visto que o suicídio é um ato do indivíduo que apenas afeta o indivíduo, dir-se-ia que depende exclusivamente de fatores pessoais e que o estudo de tal fenômeno se situa no campo da psicologia. E, aliás, não é pelo temperamento do suicida, pelo seu caráter, pelos seus antecedentes, pelos acontecimentos da sua vida privada que normalmente este ato se explica? “(DURKHEIM, 1983: 168)

Mas, se explicarmos o suicídio apenas com fatores psicológicos, a sociedade perderá a responsabilidade pelo fato. Quantos Werther de Goethe existem, existiram e existirão ainda? Nem todos que sofrem por amor se matam, ou por outro motivo qualquer, então, a questão pode ser respondida socialmente. Durkheim em seu estudo sobre o suicídio demonstra que trata-se de um fator social sem desconsiderar a psicologia, porém enfatizando fatores sociais.

“As razões com que se justificam o suicídio ou que o suicida arranja para si próprio para explicar o ato, não são, na maior parte das vezes, senão as causas aparentes. Não só não são senão as repercussões individuais de um estado geral, mas exprimem-no muito infielmente, dado que permanecem as mesmas e que ele difere. Estas razões marcam, por assim dizer, os pontos fracos do indivíduo, através dos quais a corrente que vem do exterior para incitá-lo a destruir-se se introduz mais facilmente”.

Resumidamente, as condições sociais explicam a manifestação do fenômeno suicida que aparece de diferentes formas em diversas sociedades.
Quanto maior a integração do indivíduo em sociedade, mais freqüente é o suicídio altruísta. “Quando desligado da sociedade, o homem se mata facilmente, e se mata também quando está por demais integrado nela”, afirma Durkheim.

Influências sociais que causam determinados tipos de atitude e comportamento, seja por coerção ou apenas influência social, são fatos sociais e merecem especial atenção.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

PENSAMENTOS



"A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem." (Arthur Schopenhauer)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

BORIS - In Memoriam




Primeiro o Simba que despediu-se de forma triste, magro, doente e abandonado. Por várias razões, não estive presente em seus últimos momentos e me despedi dele ainda em vida, momentos antes do instante final. Assim como você, ele foi um ser excepcional, e jamais me esquecerei daquilo que vivi com ele e por ele. Depois, somente depois, foi me dito que ele faleceu sozinho, apenas na companhia de um veterinário. Pena, não queria tê-lo deixado só, eu teria sofrido, mas teria ficado até o último instante, até o último suspiro, até a última lágrima.
Aproximadamente dois anos depois chegou a sua vez.
Sinto sua falta Boris, tenho tantas lembranças, memórias de todos os tipos. Foram uns 12 anos de convivência, risos, carinhos, você com sua cara de doce e de bravo, de ranheta e de amigo.
Talvez de alguma forma, eu seja egoísta e pense que eu, apesar de estar vivo, poderia beber do rio que se encontra no Hades para não ter lembranças dolorosas, mas isso não te honraria e também não honraria o Simba.
Então, sinto a dor da perda, a certeza de que jamais nos veremos, e que este fim deixou tanto de bom em nós durante todos estes anos. Palavras, palavras, registro o que penso e sinto sabendo que não se destina a você, mas a pessoas que eventualmente venham a ler o texto e desta forma saibam como você foi importante em minha vida e que apesar de sua ausência, tem que continuar.
O fim é o fim, nada além do fim. Nossa finitude, tão clara em momentos como os de hoje, mostram no mínimo a importância da vida e o respeito que devemos ter com todas as formas. Eu e você querido Boris, éramos de espécies diferentes, mas tínhamos muita importância em um mundo que parece não notar o valor da vida.
A imortalidade não existe Boris, mas enquanto algumas pessoas que te amaram e cuidaram de você ainda viverem, você será sempre lembrado com ternura. Não há divino, você estava no topo de qualquer divindade possível como representante da coragem de viver, apesar de limitações, castigos e maldades, que você viveu e sofreu pelas mãos de outros e ainda assim sobreviveu por tanto tempo.
Não tenho méritos, não sou digno sequer de ter tido seu afeto, mas tentei te dar o melhor que pude, respeitando as outras vidas da sua espécie que aqui residem. Lamento Boris, queria ter podido ser melhor, mas é um esforço eterno ser emancipado, evoluir, e muito daquilo que já consegui atingir, devo também a você ter existido e feito parte de minha vida.
Hoje senti sua dor, dividi seus últimos momentos tentando de alguma forma lhe mostrar que o melhor da vida já havia terminado, e que nossos últimos momentos juntos estavam para cessar.
Sem opção meu querido, não há um deus, eu não era um deus, e os limites da medicina não permitiram que nada mais fosse feito.
Meu único pedido foi terminar um sofrimento sem sentido, da forma menos dolorosa possível.
Querido Boris, você está na lista dos seres mais importantes que já conheci e por diferentes motivos, perdi.
Irei superar a perda, não terei lágrimas para sempre, mas elas surgirão às vezes em muitas das lembranças que terei durante o resto de minha vida, assim como ainda é com o Simba e tantos outros seres importantes de minha vida.
Um grande beijo amado Boris. Não nos veremos mais, mas um dia, assim como você, eu também deixarei de existir.