quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PAIS E FILHOS




Apreciar o mundo, entender fatos atuais, intrometer-se na especulação daquilo que pode mudar e como pode acontecer o processo é um dos princípios possíveis da filosofia.

Não são poucas as “lendas” a respeito de um filho único e/ou, além disso, filho de pais separados. Pelo senso comum, este tipo de criança tem proprensão a ser um problema, sendo mais caprichosa, tímida e geralmente tirânica com o pai (mãe), com dificuldades nas relações sociais do tipo relacionamento em grupo e apresentam uma certa rebeldia.

Na verdade, traços como os descritos acima podem ser encontrados em todas as crianças, com raras exceções, então, a questão do filho único depende na verdade da casualidade, possibilidades materiais (econômicas) e afetivas daquele que mais convive com a criança.
Segundo estatísticas, 53% das mães de filhos únicos desenvolve uma característica de ser excessivamente absorvente e possesiva, o que é um grande erro que, entre outros fatores, contribui para distúrbios de diversos tipos.

De forma geral, uma criança que é capaz de desenvolver possessividade, jogo, chantagem e outras coisas mais, é uma criança inteligente, ainda que cometa erros de lógica, de comportamento, e valoração. O fato de possuir um certo intelecto diferenciado também colabora com as dificuldades em se encaixar socialmente e lidar com problemas inesperados e eventualmente isso gera ansiedade e até alguma depressão.

A falta de um irmão e/ou outras crianças em um convívio contínuo certamente traz os problemas tão falados em todos os lugares, como a dificuldade para dividir tempo, atenção e coisas, muitas vezes tendendo ao isolamento ou formando laços fortes com o pai ou a mãe, ainda que os use como jogo em suas chantagens almejando a tirania, mas na verdade, isso reflete insegurança.

Na adolescência surgem conflitos diversos e há também uma tendência a se manter o traço infantil, onde alguns são submissos e outros se rebelam querendo uma independência e liberdade que não existem e sequer lhes é de direito nessa idade.
As estatístisticas com relação a este tipo de criança não são muito alentadoras e mostram que 42 % são mais emotivos, coléricos, agressivos e instáveis que outros e sentem dificuldade para se adaptar a diversos fatores como escola e conviver em grupo.

Mas, ater-se a estatísticas seria justificar o quadro, aceitando-o como ele é sem tentar promover mudanças que poderiam ser muito boas para todos, então, não deve-se permitir que o desânimo tome lugar ou aceitar as coisas prontas. O que realmente importa é a educação.

Atualmente é cada vez mais comum encontrarmos casais com só um filho ou casais separados. Segundo o IBGE, 8 em cada dez famílias possuem hoje este perfil, então cada vez mais se torna importante não banalizar o fato, pensando que “uma criança é assim mesmo” e partir para atitudes e mudanças que possam ser realmente construtivas.

Muitos pais acreditam que é bom poder dar tudo para os filhos e mantê-los em inúmeras atividades por todo o tempo. Um ser qualquer, que cresça com tanta facilidade, pensará que o mundo gira a seu redor, e a realidade está muito distante disso, então teremos uma criança chata e frustrada, que não sabe lidar com a realidade e um adulto problemático no futuro.
Um ser criado assim será provavelmente um eterno insatisfeito, não dará valor a nada e esperará tudo sempre pronto.

Devemos ser epicuristas, pois a felicidade não está na capacidade de consumo e o consumo desenfreado ainda poderá nos levar à ruína pessoal e na verdade, também do planeta.

Tudo o que é conseguido facilmente tem pouco valor, então limites devem ser impostos para tudo.

É muito importante que crianças convivam com crianças da mesma idade, pois é onde se desenvolvem valores de grupo, compreensão de moral e ética, capacidade de trocas, comparações, etc.

Os pais parecem também ter problemas com “acontecer alguma coisa” com seus filhos. Felizmente ou infelizmente, isso independe da vontade dos pais, exceto em poucas situações, onde o bom senso se faz necessário. Excesso de proteção é algo prejudicial e pensar que ele é possível é geralmente uma ilusão. Outro fator importante que faz com que os pais errem, é o sentimento de culpa, porém este além de não ser bom para quem sente, é danoso para o próximo pela incapacidade da vontade de mudar as coisas.

Um filho é um ser humano, não mais que isso. Deve-se acompanhar seu desenvolvimento, mas pensar que ele é melhor que outros, que é especial, não é real. Cada pai (mãe) deve ser também capaz de enxergar no filho o que não é bom, o que é errado, os traços específicos de cada ser.

Pais de forma geral não conseguem lidar bem com frustrações e daí, também desenvolvem a mesma dificuldade para permitir que um filho sofra. Para uma criança, um não com carinho porém firmeza é muito melhor que a permissividade.

A chantagem da criança surge exatametne dessa permissividade e ela transforma isso aos poucos em algo como uma lei. Quando dá certo, quando os pais permitem algo facilmente, a chantagem se registra e se mantém como instrumento de barganha, e isso é uma armadilha que transforma o pai ou mãe em reféns de uma situação.

Aceitar a chantagem pode ser mais fácil que suportar as conseqüências, como birra ou mau humor e isso também ameniza a culpa, porém as chantagens não param nunca, pois não é possível fazer tal tipo de criança um ser satisfeito. No futuro isso terá uma reverberação e consequências sérias para viver socialmente.

Quando o problema já está instalado, não é fácil modificar, porém é possível. Os limites devem ser claros e o pai / mãe devem tentar descobrir onde sentem mais dificuldade de dizer não. Necessáriamente a criança deve notar que as mudanças são sérias e que sem mudanças de comportamento além de nada ganhar será afetada e “prejudicada”. A possibilidade de barganha deve ser eliminada e a autoridade reestabelecida. Certamente em um primeiro momento haverá briga, porém deve se manter uma postura firme.

Ainda que o artigo não seja „profissional”, ainda que fosse não poderia e nem deveria ser apreciado literalmente. O grande valor das idéias expostas é a reflexão. Para uma orientação específica, e toda a orientação relativa a situações como as acima descritas deve ser específica, aconselho apenas, de coração, não aceitar as coisas como estão, especialmente no caso de não estarem boas. Então, reflita, lute, tente mudanças. A superação de muitos quadros que vivemos seria na verdade benéfica para todos, individualmente e socialmente.

Tadziu

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PERDÃO - PARTE II



Perdão

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O perdão é um processo mental ou espiritual de cessar o sentimento de ressentimento ou raiva contra outra pessoa, decorrente de uma ofensa percebida, diferença ou erro, ou cessar a exigência de castigo ou restituição.
O perdão pode ser considerado simplesmente em termos dos sentimentos da pessoa que perdoa, ou em termos do relacionamento entre o que perdoa e a pessoa perdoada. É normalmente concedido sem qualquer expectativa de compensação, e pode ocorrer sem que o perdoado tome conhecimento (por exemplo, uma pessoa pode perdoar outra pessoa que está morta ou que não se vê a muito tempo). Em outros casos, o perdão pode vir através da oferta de alguma forma de desculpa ou restituição, ou mesmo um justo pedido de perdão, dirigido ao ofendido, por acreditar que ele é capaz de perdoar.
O perdão é o esquecimento completo e absoluto das ofensas, vem do coração é sincero, generoso e não fere o amor próprio do ofensor. Não impõe condições humilhantes tampouco é motivado por orgulho ou ostentação. O verdadeiro perdão se reconhece pelos atos e não pelas palavras.
Existem religiões que incluem disciplinas sobre a natureza do perdão, e muitas destas disciplinas fornecem uma base subjacente para as várias teorias modernas e práticas de perdão.
Exemplo de ensino do perdão está na "parábola do Filho Pródigo" (Lucas 15:11–32).
Normalmente as doutrinas de cunho religioso trabalham o perdão sob duas óticas diferentes, que são:
• Uma ênfase maior na necessidade das faltas dos seres humanos serem perdoadas por Deus;
• Uma ênfase maior na necessidade dos seres humanos praticarem o perdão entre si, como pré-requisito para o aprimoramento espiritual.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Perd%C3%A3o



Recentemente com uma amiga, retomamos um assunto já postado aqui anteriormente, onde eu questionava a real possibilidade de perdoar, como sendo uma verdade plena.

O artigo anterior:

http://aideofobia.blogspot.com/2009/01/perdoar-per-donare-doao-de-si.html

A Thatiana mantém o valor do perdão muito agregado a valores religiosos, e quem sabe, aquele que realmente em fé, “consiga” perdoar, pois este perdão se dá em Deus. Por ser cético e compreender o espírito humano de outra maneira, não vejo tal perdão acontecendo (dependendo do ato a ser perdoado), seja em Deus ou na alma do indivíduo.

Este artigo comenta um texto chamado “O poder do perdão” de Ágata Székely, publicado na Revista Seleções. A íntegra pode ser lida pelo link:

http://www.selecoes.com.br/revista/5621/O-poder-do-perdao.html

A autora menciona Elton John e diz que além de ser difícil perdoar, perdão é uma palavra mal-entendida.

A valoração que ela dá ao perdão em um primeiro momento, trata somente de eventuais superficialidades, nada de realmente importante e coloca o perdão como necessário para não se sentir o rancor, que é algo que nos incomoda no presente.

A grande questão é: podemos sublimar a lembrança, podemos desconsiderar a pessoa e nos afastar dos sentimentos ruins que determinado ato nos causou, sem que seja necessário perdoar. Perdoar não é o único instrumento que nos permite um alívio da alma, ainda que seja um deles.

Fred Luskin, psicólogo da Universidade de Standford afirma que os problemas devem ser solucionados. Concordo plenamente, até pelo fato de um problema sem solução não ser um problema. Ele diz ainda que o perdão é para nós mesmos e não para quem nos ofendeu. Certo, mas isso encerra a questão do perdão vista por uma ótima religiosa, e transforma o perdão em uma outra coisa, do tipo sublimar, não lembrar, não permite reconciliação, o que não está fora dos conceitos que apresentei para perdão, ou se recoloca semanticamente em uma nova interpretação.

Segundo Luskin:

“[...] o perdão serve para relaxarmos e não significa que o agressor “se dê bem”, nem que aceitamos algo injusto. Ao contrário, significa não sofrer eternamente pela ofensa ou pela agressão.”

Perfeito, realmente não faz sentido manter sentimentos que nos tragam angústia, então, assim como tantas outras coisas que precisamos “esquecer”, este tipo de perdão pode e deve ser instaurado em nós sempre que necessário.

O exemplo citado pela autora relacionado ao Capitão John Plummer não é um bom exemplo para perdão. É uma situação específica, onde alguém recebe ordens, e em uma guerra tais atos são comuns. Não haveria hoje convivência pacífica na Europa se um tipo de perdão deste gênero fosse realmente necessário. Tentei tratar o perdão em relações mais próximas e pessoais. Situações limite como uma guerra, trazem a possibilidade de “distribuição de culpas”, entre o momento histórico, o governo de cada um dos países, etc. Não há quem culpar diretamente, então também não há a quem perdoar.


Boris Cyrulnik, também citado, viveu uma situação extrema de campos de concentração nazistas. Ele traz como “solução” para a questão, nas palavras dele:

“Dá trabalho, não é fácil, mas é um espaço de liberdade interior que permite não se submeter às feridas.”

Ainda assim, não se trata de perdão, e sim de sublimação e de busca da liberdade interior, liberdade do espírito, abandonar angústias.

Na verdade, não se deve manter um papel de vítima e as dores emocionais devem ser superadas, e não importa se isso é feito pelo perdão ou pela sublimação, sendo que a sublimação é mais real.

Segundo a psicoterapeuta Rosa Argentina Rivas Lacayo, presidente da Associação Latino-americana de Desenvolvimento Humano e da Associação de Orientação Holística do México, “sem perdão não podemos crescer nem ficar mais fortes com a adversidade. Também não conseguiremos ser flexíveis e resilientes. Algumas pessoas ‘cozinham’ a dor em fogo brando para mostrar ao mundo como foram maltratadas, e não querem perceber que assim se prejudicam. Ao mundo, não interessa o nosso passado, só o que somos capazes de fazer e dar agora. Quando nos apegamos à dor antiga, a autocomiseração embota a capacidade de dar e, quando assumimos o papel de mártires, ficamos à espera de que alguém resolva milagrosamente a nossa vida.”

Perfeito, existe sim a vitimização e muitas vezes se fazer de vítima é chamar atenção para uma carência e eventualmente, uma motivação para uma vingança qualquer. De forma geral, não é um sentimento bom, ainda que em situações específicas, necessário.

Rivas Lacayo diz: “[..] o perdão nos ajuda a reconhecer e admitir que somos frágeis e que não precisamos esconder essa fragilidade. Quando nos tornamos conscientes dos nossos limites, evitamos que a experiência se repita”.

Na verdade, o fato de termos nos sentido emocionalmente abalados é o que nos mostra nossa fragilidade, pois sem esta, não teríamos sofrido e não teríamos o que perdoar. Devemos sim ter consciência de nossos limites, não somente para evitar que determinada experiência se repita, mas para que possamos evitar que venha a acontecer.

Nascemos livres e somos livres sempre, fazemos escolhas, opções, e até mesmo não fazer uma escolha é uma escolha. Em muitas situações, somos responsáveis inclusive pelo que fazem conosco, pois “permitimos” que algo seja feito e não é raro “não nos perdoarmos” por isso, mas geralmente o sentimento surge à posteriori.

Não é possível negar, que todo e qualquer sentimento ruim deva ser afastado, e que as angústias que carregamos nos fazem mal. Sabemos também, que muitas das angústias emocionais acabam por atingir a nossa saúde física. Todavia, limitar nossa capacidade de nos livrarmos de sentimentos ruins pelo perdão, é no mínimo pouco sensato. É como dizer: se você não consegue perdoar, manterá determinada angústia. Não é bem verdade, podemos desenvolver outros instrumentos que sejam tão eficazes quanto o perdão.

Aparentemente, o artigo traz uma nova semântica para a palavra perdão, porém fazendo isso, além de colidir com a interpretação de perdão pelo senso comum, que pertence a um grande número de pessoas, elimina outras saídas viáveis para a busca de um alívio emocional.

Não podemos nos esquecer, que para muitas pessoas, uma vingança quando possível, também traz o alívio necessário. Não estou aqui fazendo uma apologia a respeito da vingança, mas mostrando que entre outros, há situações onde este instrumento também é válido e outra parte merece.

Há uma questão social muito forte, com grande influência religiosa, que torna a vingança algo excessivamente reprovável, torna o homem um cordeiro, um fraco, e esquece que entre tantos instrumentos que a natureza nos deu para sobreviver e continuar a espécie, está a defesa.

De qualquer maneira, a busca deve estar centrada no amor, na ética, na verdade e na justiça, ainda que eventualmente se faça necessário o uso da força.

Dedicado a minha querida amiga Thatiana, que faz com que eu pense em como dar “valorações” a certos elementos espirituais humanos.

Tadziu