
Estranho período da humanidade, século XXI. Muitos de nós talvez nos século passado tivessem imaginado um mundo melhor, diferente, tolerante, igualitário, mas ainda estamos muito distantes disso e vivemos talvez o pior egocentrismo de todos os tempos, um apogeu do egoísmo e falta de solidariedade.
São várias as perspectivas de apreciação da maldade e do egoísmo do homem, porém não devemos nos esquecer que o mesmo homem que é capaz de atrocidades terríveis, é também capaz de atos de piedade e extrema compaixão, então existe a possibilidade de sermos norteados por ideais melhores.
Segundo Schopenhauer, as ações humanas contém além da maldade e do egoísmo a piedade. Pessoalmente não gosto de piedade, acho um valor “fraco” e muitas vezes hipócrita, porém realmente existe e se manifesta em diferentes situações, chegando até mesmo a ser algo bom e válido dependendo da situação. Para ele, se o mundo é dor, ele pode ser melhor tolerado e suportado com a piedade.
O “bom” em Schopenhauer é o fato dele não considerar ou não lidar bem com as convenções sociais, apesar de se queimar com as mulheres graças a aforismos absurdos, ainda assim ele tem valores inquestionáveis sobre o amor e a vida, onde o amor é um impulso para a vida.
Mas a idéia aqui é tratar também de animais, o que nos inclui. Schopenhauer foi um “recluso” e vivia na companhia de seu cão Atma (alma do mundo), e quando seu cão agira de forma má, ou a descontento, ele sarcasticamente o chamava de bípede, fazendo uma alusão sarcástica ao ser humano.
Schopenhauer tinha seus motivos para não gostar do humano, não era algo gratuito. Em seu contexto ele levava em conta o tipo de organização e importância que o humano dava com relação às condições materiais e espirituais (de sua época), o que parece válido ainda hoje. O homem na época de Schopenhauer não desempenhava um papel que pudesse engendrar uma vida melhor com relações mais amistosas (como hoje).
Lembro que a valorização dos animais também aparece em Nietzsche, Motaigne e alguns outros além de Schopenhauer, que dizia que entre os cães, diferentemente do que ocorre entre os homens, a vontade não é dissimulada pela máscara do pensamento.
Com relação aos animais, ele ainda dizia: “A suposta ausência de direito dos animais, o preconceito de que o nosso procedimento para com eles não tem importância moral, que não existem, como se diz, deveres para com os animais, é justamente uma ignorância revoltante, uma barbaridade do ocidente”.
E ainda: “A piedade com os animais está tão intimamente ligada com a bondade de caráter, que se pode afirmar que quem é cruel com os animais não pode ser bom”.
Então, pensemos em valorizar todo o tipo de vida, e talvez especialmente a dos animais, pois estes saíram do estado de natureza por nossa obra e necessidade, então agora são nossa responsabilidade.
Montaigne comenta sobre os tipos de raciocínio dos homens e dos animais, chegando a insinuar que possuem eventualmente faculdades superiores às nossas. Sobre a comunicação entre nós e os animais ele diz:
"Essa falha que impede nossa comunicação recíproca tanto pode ser atribuída a nós como a eles, que consideramos inferiores. Está ainda por se estabelecer a quem cabe a culpa por não nos entendermos, pois se não penetramos os pensamentos dos animais eles tampouco penetram os nossos e podem assim nos achar tão irracionais quanto nós os achamos".
Nietzsche em “Humano, Demasiado Humano” faz uma crítica direta relacionada à condição do animal: “A fera que há em nós precisa que se lhe minta; a moral é mentira forçada, para que não sejamos dilacerados por ela. Sem os erros, que se encontram nas suposições da moral, o homem teria permanecido animal. Assim, porém, tomou-se por algo de mais elevado e impôs-se leis mais severas. Tem, por isso, um ódio contra os estádios que permaneceram mais próximos da animalidade: donde se há-de explicar o antigo desprezo pelo escravo, como por um não-homem, como por uma coisa.”
E com observações um tanto sarcásticas nos dá a seguinte pérola:
“O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele”.
Enfim, nas relações entre humanos e humanos e animais, tudo depende de nós. Encontrar caminhos para superar a mesquinhez, o egoísmo, ter solidariedade com todas as coisas vivas, e eliminar tantos “ismos” negativos pendentes só depende de nós.
Amar os animais e respeitar a vida faz parte de nosso processo de evolução e superação, e não estamos indo muito bem nesta emancipação que nos é tão necessária até mesmo para a nossa própria sobrevivência.
Tadziu