terça-feira, 23 de junho de 2009

O QUE É CIÊNCIA?


A introdução da Crítica da Razão Pura de Kant busca firmar os juízos sintéticos a Priori na ciência, mostrando a compreensão de fundamentos no transcedental da experiência. Critíca especialmente a questão de até que ponto é possível realmente conhecer. Kant revisa e aponta juízos sintéticos a priori na matemática, física e metafísica. Daí temos o questionamento mais importante nas perguntas de como é possível conhecer a física pura, a metafísica pura, a matemática pura como ciência.

Daí temos uma propedêutica, uma metodologia até, onde há caminhos e funções de controle para usarmos a razão de modo a exigir experiência como fundamentação. Kant tem como pressuposto a existência de conhecimento a priori, porém a razão necessita provar como o conhecimento é possível.

Kant classifica as Lógicas em Crítica da Razão Pura.

Algumas das idéias de Kant são ainda válidas, especialmente por terem conseguido um status de “não estagnar” as ciências.

Kant na introdução à Lógica Transcedental na obra Crítica da Razão Pura é uma referência nova, uma produção voltada para um tipo de organização didática, um método a ser seguido como correto na busca do conhecimento.

Uma divisão possível da Lógica de Kant é:
Lógica em geral
Lógica transcedental
Lógica Geral em Analítica e Dialética
Lógica Transcedental em analítica e Dialética transcedental.

Kant divide e segmenta em ramificações a classificação de lógica. Daí, Lógica Geral se contrapõe à Lógica Particular. Da mesma forma separa e diferencia questões da Lógica Geral Pura das que se relacionam com a Lógica transcedental. Assim ele cria um lugar, um espaço para um outro tipo de lógica, a Lógica transcedental.

Kant questiona a capacidade que podemos ter em conhecer, e dividindo a Lógica ele cria uma demarcação para o conhecimento, considerando diferentes áreas do saber.

Kant dita tudo o que é necessário para se obter ciência de forma verdadeira, e (até onde ela é possível), tendo o cuidado de nunca conceber verdades falsas.

Para Popper, nosso conhecimento é a concepção de percepções que acumulamos ou assimilamos e classificamos de formas separadas. Aristóteles já dizia que não há nada no intelecto humanos que anteriormente não tenha estado nos órgãos sensitivos.

Atomistas gregos consideraram que átomos desprendidos dos objetos eram sentidos pelos órgãos que os convertiam em sensações e com o tempo de forma lógica, como em um quebra cabeças, montava-se o conhecimento.

“De acordo com essa concepção, assim, nossa mente se assemelha a uma vasilha – uma espécie de balde – em que percepções e conhecimento se acumulam” (Popper, p. 313).

Empiristas radicais, mantém como conselho uma interferência mínima no processo de acúmulo de conhecimento, para que este possa ser verdadeiro e puro, livre de preconceitos que eventualmente possamos agregar a nossas capacidades perceptivas. Bacon tinha como idéia um sistema de depuração mental que deveria afastar os “quatro ídolos”, que estão na mente humana e interferem obscurecendo as idéias, onde o sujeito pode tornar-se uma tabula rasa diante da natureza. Kant nega a possibilidade de percepções puras e afirma que o conhecimento é uma mescla de percepção da sensibilidade e do entendimento, assim, ele afasta-se do empirismo radical.

Popper discorda e julga que a observação no conhecimento científico é “Uma observação é uma percepção, mas uma percepção que é planejada e preparada” (Popper, p. 314). Então para ele o conhecimento científico vem antes de um problema que nos interessa, seja isto especulativo ou teórico. O que observamos necessita antes de uma hipótese ou teoria que irá nortear na busca de uma solução. Como não podemos observar tudo, fazemos isso de forma seletiva.

Lakatos, sobre o Popper falseacionista, inicia criticando o que é capaz de invalidar teorias. Lakatos, de forma semelhante a Kuh, julga a ciência como algo estável de forma geral, porém Lakatos é mais flexível que Kuhn.
A principal diferença entre Lakatos e Kuhn está na questão da maturação da ciência.

Para Kuhn a ciência é estável onde há esforços na busca de soluções por parte dos cientistas, pressupondo-se que independente do tempo que será gasto no esclarecimento de algo, todas as peças do quebra cabeças a ser montado já estão disponíveis e presentes.

Lakatos por sua vez destaca a importância da crítica, de refutar teorias e considerar as anomalias que geram a necessidade de reformulação da teoria. Isso lhe dá uma posição intermediária entre Kuhn e Popper.

Para Popper a ciência é um fluxo, possuí teorias refutáveis, e testes empíricos descartam teorias falsificadas.

Para Lakatos a ciência é razoavelmente estável, mas necessita de revisões parciais teóricas, de teorias parcialmente refutáveis, e teorias que tiveram resultados empíricos falsificados não necessitam de total abandono.

A tenacidade de uma teoria contra a evidência empírica seria então um argumento mais a favor do que contra a sua qualificação como “científica”, a “irrefutabilidade” tornar-se-ia uma marca distintiva da ciência. (Lakatos, 1979, p.124)

Para Kuhn a ciência estável, com anomalias que ocupam papel secundário e são relativamente desprezadas, o seu papel para derrubar teorias é pequeno.

Há uma diferença importante na busca de conhecimento para Kuhn e Lakatos. Para Kuhn a ciência é estável e os pesquisadores “montam quebra cabeças” onde existe uma resposta desde o início, seguindo normas básicas: junte um vagão a um trem sem sair dos trilhos. Anomalias são para ele incapazes de destruir ou modificar teorias sem algum complemento maior.

Lakatos divide seu Programa de Pesquisa Cientifica em duas partes: a heurística positiva e a heurística negativa, consecutivamente (cinto protetor e núcleo Hardcore).

Todos os programas de pesquisa científica podem ser caracterizados pelo seu “núcleo”. A heurística negativa do programa nos proíbe dirigir o modus tollens para esse “núcleo”. Ao invés disso, precisamos utilizar nosso engenho para articular ou mesmo inventar “hipótese auxiliares”, que formam um cinto de proteção em torno do núcleo, e precisamos redirigir o modus tollens para elas. (Lakatos, p. 163)

Para ele, o núcleo é intocável. Os cientistas dentro do conceito de seu PPC possuem um comportamento como os “normais” de Kuhn com relação ao paradigma. Com relação ao cinto protetos, Lakatos considera a refutação e destaca o valor da crítica às teorias como algo favorável para a manutenção do PPC, pois cientistas podem transformar derrotas aparentes em triunfos.

CONCLUSÃO:

A ciência é um conhecimento racional, crítico, provisório, sempre disponível a complementação e correção. Não é algo pleno, perfeito, mas uma construção permanente de interpretação da realidade parcial.

As observações do cientista são guiadas por teorias e hipóteses, e não são puras ou imparciais, pois o cientista não é um descobridor ou alguém que confere através de métodos indutivos, e sim alguém que cria conjecturas que devem ser testadas de forma rigorosa, tanto quanto possível, e usar de refutação em experimentos controlados. Assim, as teorias podem englobar cada vez mais conhecimento, buscar profundidade, embasamento e corroboração, e assim se aproximar da verdade.

Tadziu

CRÍTICA DA RAZÃO PURA - METAFÍSICA




Immanuel Kant afirma que o domínio da razão e o rigor científico podem recriar a metafísica como conjunto dos conhecimentos dados apenas pela razão, sem utilizar os dados da experiência. A metafísica para Kant reduz-se ao estudo das condições e limites do conhecimento.

Kant separa o conhecimento sensível que se relaciona às instituições sensíveis do conhecimento inteligível que trata de idéias metafísicas.
A Crítica da Razão Pura trata especialmente dos motivos pelos quais as metafísicas são voltadas ao fracasso e das razões pelas quais a razão humana é impotente para conhecer as coisas em profundidade.

Ciência e Metafísica

Immanuel Kant tem como método a "crítica", a análise reflexiva. Visa trazer à tona do conhecimento condições que possam torná-lo legítimo. As verdades da metafísica são alvo de discussões intermináveis e grandes pensadores não estão de acordo com as várias abordagens e interpretações.

Ainda assim, a razão constrói sistemas metafísicos, pois existe uma tendência natural de buscar interminavelmente a unificação, ainda que além da experiência possível. O metafísico tenta ir além do empírico e da causalidade na medida em que se afasta deliberadamente da experiência concreta.

Crítica da Razão Pura divide a filosofia transcedental teórica e a metafísica em si. Uma é a teoria que dá referência e significado a conceitos a priori na experiência possível e trata da verdade ou falsidade como possibilidade, a outra usa esses juízos para a priori legislar sobre a natureza em uma experiência possível.
A experiência usa os sentidos externos e internos para dividir a natureza em pensante ou corpórea.

Assim, a metafísica da natureza corpórea trata do que é indispensável para a metafísica geral, ou seja, trata da filosofia transcedental atribuindo valores e significados a uma forma básica de pensamento.

O conhecimento pode ser tratado como uma síntese a priori e pode dar universalidade tanto à matéria como a conteúdos do mundo exterior. Kant com seu juízo sintético a priori, reúne conteúdo e forma e esta síntese concretiza uma superação pelos juízos a concepção dogmática racionalista baseada somente no empirismo cético. Assim, com suas idéias, ele abre possibilidades para validar sua descoberta abrangendo todos seus pressupostos gnosiológicos.

Até os dias atuais, a metafísica é mantida em uma situação incerta, com contradições e talvez o fato de não ter sido explorada devidamente ou anteriormente, ainda seja uma coisa insatisfatória como instrumento que resolva efetivamente algum tipo de problema. Mesmo com as distinções de juízos em analíticos e sintéticos, parece não resolver totalmente a questão.

Kant afirma que falando de Filosofia, não é possível afirmar nada sobre o mundo inteligível. Pelo aspecto metafísico, Crítica da Razão pura demonstrou os paralogismos e antinomias sobre as possíveis idéias da ração. Kant não demonstra a metafísica como sendo impossível em momento algum, talvez pelo fato dela ser necessária para a ética. É na epistemologia que a metafísica encontra pretensões de pela razão tornar-se conhecimento incondicional. A crítica vem como instrumento que demonstra a impossibilidade da metafísica tornar-se ciência e vem acompanhada de orientações para que o homem obedeça a regras e não ultrapasse simplesmente o valor do empirismo. O grande destaque de Kant está no fato de ser necessário conhecer aquilo que está nos objetos transcendentes, que são apenas pensados sem a possibilidade de experiência. A razão deve ter como preocupação não o mundo noumênico, mas o mundo dos fenômenos. Na tentativa de solucionar questões transcendentes, a razão se perde e consegue somente argumentos errôneos e falaciosos.


Tadziu

Platão e o Ser


Platão - Ser

Uma das principais teorias de Platão está na criação do mundo sensível e do mundo das idéias, em uma tentativa de decifrar o conflito que Heráclito e Parmênides criaram.

Segundo Aristóteles, quando jovem Platão conheceu Grátilo, e este afirmava, assim como nas idéias de Heráclito, ser impossível atingir um conhecimento estável, qualquer que fosse.

Mundo das Idéias e Mundo Sensível

Baseado nas teorias de dois grandes filósofos pré socráticos, Heráclito e Parmênides, Platão buscou resolver a questão antagônica de ambos com uma teoria própria.

Para Platão, Heráclito estava correto com relação às percepções do mundo sensível e material, onde a matéria era imperfeita e estava em constante mudança. Parmênides estaria certo quando exigia o afastamento da Filosofia do mundo sensível buscando a veradade naquilo que somente o pensamento poderia compreender.

Para Platão há dois mundos separados:

a) mundo sensível, dos fenômenos acessíveis aos sentidos
b) mundo das idéias gerais (cognoscível), que o homem pode atingir através da contemplação e depuração dos enganos dos sentidos.

Assim, a oposição de Heráclito à mutabilidade essencial do ser e a postura de Parmênides sobre o ser imóvel, para Platão, recebe uma relação entre mundo das idéias parmenideo e mundo fenomenológico do devir heraclitiano.
O livro VII da República de Platão (Mito ou Alegoria da Caverna) é uma boa explicação da teoria de Platão. (Caso não conheça, procure e leia, vale a pena refletir sobre).

Os homens que se libertam conhecem a essência das coisas, o mundo das idéias, os presos conhecem somente o mundo sensível.
Platão, apesar de deixar questões em aberto, o que foi criticado por Aristóteles, e outras afirmações ainda hoje não compreendidas, como imortalidade da alma e reencarnação, é um grande marco para a filosofia.

Tadziu

Kant
Crítica da Razão Pura
Doutrina transcedental dos elementos
Lógica Transcedental



Introdução



Kant classifica as Lógicas em Crítica da Razão Pura.
Algumas das idéias de Kant são ainda válidas, especialmente por terem conseguido um status de “não estagnar” as ciências.
Kant na introdução à Lógica Transcedental na obra Crítica da Razão Pura é uma referência nova, uma produção voltada para um tipo de organização didática, um método a ser seguido como correto na busca do conhecimento.
Uma divisão possível da Lógica de Kant é:
Lógica em geral
Lógica transcedental
Lógica Geral em Analítica e Dialética
Lógica Transcedental em analítica e Dialética transcedental.
Kant divide e segmenta em ramificações a classificação de lógica. Daí, Lógica Geral se contrapõe à Lógica Particular. Da mesma forma separa e diferencia questões da Lógica Geral Pura das que se relacionam com a Lógica transcedental. Assim ele cria um lugar, um espaço para um outro tipo de lógica, a Lógica transcedental.
Kant questiona a capacidade que podemos ter em conhecer, e dividindo a Lógica ele cria uma demarcação para o conhecimento, considerando diferentes áreas do saber.


Lógica em Geral e Lógicas Particulares


Para Kant, o entendimento humano se dá pela formulação de juízos o que significa poder universalizar e representar dois ou mais conceitos de forma objetiva e válida. O entendimento não é aleatório para Kant e deve seguir normas que podem ser gerais se servirem para qualquer juízo, independente do conteúdo, ou particulares, caso sejam válidas exclusivamente em algumas situações onde o pensamento avalia um conjunto determinado de objetos.
Regras particulares de pensamento são contingentes por considerar em determinado momento a formulação de juízos sobre uma área específica de conhecimento. Pelo fato de se ajustarem a áreas específicas como física, sociologia, química, etc, as Lógicas particulares de entendimento são órganons (métodos) para a apreensão do conhecimento de determinada ciência.
Regras de uso geral se aplicam a qualquer argumento ou juízo possíveis, puros ou empíricos. Em Crítica da Razão Pura, Kant apresenta doze meios de conferir unidade ao conhecimento que desencadeou um juízo. Além dos doze meios para se chegar a juízos, a Lógica Geral possuí inferências para os raciocínios indutivos, dedutivos, etc. O princípio da não contradição e o terceiro excluído são necessidades mínimas a serem atendidas para um pensamento.


Lógica Geral Pura e Lógica Geral Aplicada

Kant trata a Lógica por diversas vezes como sendo uma ciência de regras para o pensamento. O único tipo de Lógica a manter algo de psicologia é a Lógica Geral Aplicada:

“Quanto à Lógica que denomino aplicada (contra a significação comum desta palavra, que designa certos exercícios e cuja regra a Lógica pura fornece) é que representa o entendimento e as regras de seu uso necessário considerado “in concreto”, quer dizer, enquanto se acha submetido às condições contingentes do sujeito que poderão ser-lhe opostas ou favoráveis, não sendo jamais dadas “a priori”. Essa Lógica trata da atenção, de seus obstáculos e efeitos, da origem dos erros, do estado da dúvida, do escrúpulo, da persuasão, etc.”
(Kant, pág. 33)

Mesmo para Kant, Lógica Geral Aplicada é um tipo de conhecimento psicológico com base em dados empíricos, então não deveria ter este nome. Nesta classe estariam conhecimentos obtidos com experiência relacionada com a aplicação ao dia a dia. Assim, é possível depurar os pensamentos sobre as atividades do pensamento em geral das influências psicológicas que interferem.
Lógica Geral acrescida do termo “Pura” serve para com maior precisão efetuar delimitações para o que é ciência, que seria uma investigação a priori das necessidades, normas e regras para um pensamento puro, ainda que em Crítica da Razão Pura tenhamos muitos termos da Psicologia, como “consciência”, “juízo”, “representação”. Apesar disso, temos sim muitas regras sobre como deve ser a Lógica Geral Pura para o pensamento.
Existe uma grande ligação entre validade e formalidade Geral da Lógica Geral Pura.
As Leis Lógicas são bastante descritivas e movem o entendimento e a razão, sendo normativas. Kant necessariamente tem que encontrar saídas com relação ao valor necessário universal e os riscos de produzirmos raciocínios e juízos falsos.


Lógica Geral Pura - Lógica Formal


“`Pura” refere-se a conteúdo da Lógica Geral (a priori), não empírica, válida de forma universal e necessária, excluindo não só regras de cunho psicológico consideradas pela Lógica Aplicada, mas também o conteúdo daquilo que se conhece, assim, a Lógica Geral Pura pode ser uma ciência formal.
A Lógica Geral Pura permite um uso geral, em qualquer área do conhecimento.
Na Crítica da Razão Pura, temos regras do entendimento podendo ser usadas sem relação com a sensibilidade, pois um conceito só possuí conteúdo se preenchido pelo menos por uma intuição pura empírica e intuições sensíveis só podem ser atribuídas pela sensibilidade.
Então, o conhecimento humano é possível graças à interação entre entendimento e sensibilidade, que são faculdades cognitivas.
A Lógica Geral Pura possuí regras formais e trata do entendimento e da razão. Para Kant, errar era considerar verdadeiro um falso juízo e ele pode ser falso de duas maneiras: uma associação entre sujeito e predicado que não está de acordo com os fenômenos (falsidade material) ou sua forma (estrutura) é afetada por alguma regra da lógica, como o princípio de não contradição.
Apesar da Lógica Formal ser uma ciência descritiva, ela pode ser enganosa e sugerir leis coercitivas sobre o entendimento o que pode transformar um juízo formal falso em uma verdade paradoxal. Isso se desfaz se possível for observar algo como o princípio de não contradição, anulando o efeito.
Kant explica as possibilidades de juízos não verdadeiros terem esta aparência induzindo ao erro.

“A Lógica geral decompõe, pois, em seus ele mentos toda a obra formal do entendimento e da razão, e os apresenta como princípios de toda apreciação lógica do nosso conhecimento. A esta parte da Lógica pode dar-se o nome de analítica, e e desta sorte a pedra de toque da verdade, ainda que negativa, porque cumpre controlar e julgar segundo as suas regras a forma de todo conhecimento, antes de lhe examinar o conteúdo, para ver se em relação ao objeto contém alguma verdade positiva. Mas como não basta de modo algum para decidir sobre a verdade material (objetiva) do conhecimento, a forma pura do mesmo, por muito que concorde com as leis lógicas, ninguém pode aventurar-se apenas com a Lógica a julgar objetos, nem a afirmar nada, sem ter antes achado, e independentemente dela, manifestações fundadas, salvo pedir em seguida às leis lógicas em uso e encadeamento em um todo sistemático, ou melhor ainda, submetê -los simplesmente a essas leis.” (Kant, pág. 35)


O fato de sermos capazes de perceber um juízo falso evidencia que as leis lógicas valem de forma universal como avaliação de juízos.


Lógica Transcendental


Toda investigação buscando meios para o conhecimento a priori, seja Física, Metafísica ou Matemática Pura, tem este nome para Kant.
A Lógica Transcendental busca conceitos puros e possibilidades de conhecimento a priori, que Kant chama de conceitos puros do entendimento, e o conhecimento a priori só é válido se aplicado a experiências possíveis.
A Lógica Transcendental então traz condições de possibilidade da Lógica Geral Pura e também da Física e Matemática.
Há limitações e se ignorarmos estas usando Lógica Geral Pura como órganon na construção (somente com ela) de um conhecimento verdadeiro, faremos um uso dialético dela, e a Dialética nesta situação seria uma aplicação ruim da Lógica Geral Pura e artificialmente poderia criar um conhecimento verdadeiro encobrindo juízos e raciocínios.
A Lógica Transcedental é passível de divisão em analítica e dialética. A Analítica Transcendental além de expor o conjunto de conceitos e princípios puros que são a forma de entendimento, também explica como é a relação entre entendimento e sensibilidade que gera a construção de conhecimentos com base em juízos sintéticos a priori.
A aparência transcendental, como uma ilusão natural da razão, só pode ser desvelada por um procedimento crítico que tenha bem presentes conceitos e intuições.

Conclusão

A Razão na Crítica da Razão Pura, é uma faculdade do pensamento humano e serve para buscar o incondicionado, que seria a síntese absoluta de todos os conhecimentos possíveis. Mas esse incondicionado nunca poderá apresentar-se sendo objeto de experiência para o humano, como se nota em Analítica e na Estética Transcendentais – e essa é uma condição imprescindível para formular juízos sintéticos a priori. Uma vez que a razão pura é incapaz de produzir conhecimento teórico, resta como importante para nortear a produção de conhecimento científico com idéias.

Tadziu

sábado, 13 de junho de 2009

METÁFORA PARA PENSAR O CAPITALISMO



Banqueiro

Certa tarde, um famoso banqueiro ia para casa em sua "limousine"quando viu dois homens, à beira da estrada, comendo grama.


Ordenou ao seu motorista que parasse e, saindo, perguntou a um deles:
- Porque vocês estão comendo grama ?

Não temos dinheiro para comida. - disse o pobre homem - Por isso temos que comer grama.
- Bem, então venham a minha casa e eu lhes darei de comer - disse o banqueiro.

- Obrigado, mas tenho mulher e dois filhos comigo. Estão ali, debaixo daquela árvore.
- Que venham também - disse novamente o banqueiro.

E, voltando-se para o outro homem, disse-lhe:
- Você também pode vir.
O homem, com uma voz muito sumida disse:

- Mas, senhor, eu também tenho esposa e seis filhos comigo!
- Pois que venham também. - respondeu o banqueiro.

E entraram todos no enorme e luxuoso carro.
Uma vez a caminho, um dos homens olhou timidamente o banqueiro e disse:

- O senhor é muito bom. Obrigado por nos levar a todos !
O banqueiro respondeu:

- Meu caro, não tenha vergonha, fico muito feliz por fazê-lo! Vocês vão ficar encantados com a minha casa... A grama está com mais de 20centímetros de altura !


Moral da história:
Quando você achar que um banqueiro está lhe ajudando, não se iluda, pense mais um pouco...

terça-feira, 9 de junho de 2009

METADE DA LARANJA




Há pessoas que tentam medir a dor de um final de relação. A dor, como qualquer outro tipo de sentimento, é pessoal, individual e intransferível e é um luto para qualquer uma das partes, mas pode e deve ser superada com dignidade. Não existe situação onde o outro fique feliz, a menos que tenha sido vivida uma grande mentira, o que acontece e não deve ser desprezado como possibilidade.

Há momentos e situações onde o término é inevitável e até desejável, mesmo quando ainda existe algum tipo de sentimento bom. Apenas bons sentimentos, mesmo se tratando de amor, não são suficientes para manter uma relação. Relações se desgastam, erros são cometidos, surge a falta de cuidado, o desprazer e tudo acaba morrendo, às vezes com algo que culmina e decide as coisas e outras vezes pelo próprio desgaste, enfim, há relações que realmente não devem ser mantidas e se faz necessário decidir o momento do fim.

De forma bem generalizada, o amor termina aos poucos e os melhores sinais da degeneração estão no afastamento progressivo, distância, falta de diálogo e respeito.

O rompimento acontece por uma sucessão de fatos e atitudes somados e também da falta de atitude para que as coisas mudem e retomem um bom rumo, e ainda, com uma gota d’água que faz com que o copo transborde eliminando toda e qualquer chance de continuidade, então o fim se instala e deve ser aceito por ambos.

Existe quase sempre uma idealização sobre o outro ser perfeito, ou a criação de expectativas que geralmente acabam sendo transformadas em grandes frustrações. As decepções repetidas geram um grande esfriamento emocional, e da mesma forma a falta de respeito.

Há casais que temem desagradar o outro, outros mantém posturas tão firmes, que não se importam com desagradar e ambas as medidas estão erradas. Daí, muitos términos vem acompanhados de revolta e ódio, mágoa e intolerância. O excesso de medo em desagradar gera posteriormente cobranças e a falta de agrado e mágoa, e quando ambas as situações ocorrem, temos uma situação insustentável de convivência, às vezes gerando a sensação de que o planeta todo é pequeno demais.

De maneira bem existencialista podemos e devemos considerar que ninguém é responsável por seus sentimentos ou por sua dor. Ainda que o erro seja do outro, ele nunca é totalmente responsável por sua felicidade ou por sua dor, pois você teve opções, e se não notou algo realmente relevante, o problema é exclusivamente seu.

Quando há um rompimento de uma relação de amor, mesmo os sentimentos mais contraditórios e paradoxais devem ser respeitados. O abandono não deve compreender sentimentos mesquinhos e o orgulho é um grande atraso de vida.

Há duas situações comuns em casos de fim de relacionamento: uma é culpar o outro e a outra sentir culpa. A primeira é sinal de imaturidade e a segunda de falta de auto estima.

O respeito que faltou em um primeiro momento pode ser demonstrado com a aceitação e respeito pelas posturas do outro. Todo e qualquer ataque indireto, provocação, ações de invasão e tantos outros atos possíveis, constituem mágoa existente, e falta de respeito.

Poucas são as coisas definitivas. Sofrimento e felicidade não estão entre elas. Arrastar um relacionamento ruim é penoso e tentar transformar isso em definitivo é masoquismo, é mentir e viver uma mentira.

Há pessoas que tentam sufocar a dor da perda com um amor novo. Pode ser que isso seja inconscientemente inevitável, e pode ser que realmente uma nova boa relação surja, mas o perigo reside no fato da nova relação poder estar apenas ligada a uma carência, o que é perigoso e poderá trazer de volta à tona vícios de um relacionamento anterior.

O término de um relacionamento deve ser visto como libertação e chance de uma boa vida. Não são poucas as situações onde o término deve ser visto realmente como se livrar do outro, e idéias de amizade após a relação são apenas hipocrisias fantasiosas.


Na atualidade vivemos grandes novas mudanças que vão desde a tecnologia e atingem é claro o tipo de relações afetivas que vivemos. Há muitas lendas, mitos sobre parceiro ideal e parece estar difícil compreender como pode acontecer uma relação afetiva “ideal” nos tempos modernos.

Vivemos em um momento de egocentrismo inegável onde a individualidade deve ser respeitada, e o respeito não é necessário somente para a individualidade, mas em toda a relação. O importante é ser bom estar junto, sem dependência de espécie alguma e com grande responsabilidade pelo próprio bem estar e pelo bem estar do outro. Não pode mais haver a responsabilidade do outro pelo seu bem estar.

Aquela história de “metade da laranja”, “tampa da panela” e outras do gênero perdem o sentido a cada dia e em breve irão desaparecer, então se faz necessário aprender a lidar com um novo conceito de valores para relacionamentos. A premissa de sermos a metade necessitando encontrar a outra metade que nos complementa torna se cada vez mais um conto de fadas irreal, assim como a história de opostos se atraindo para complementação.

O que procuramos hoje está mais relacionado à parceria onde um tipo de amor mais antigo, o da necessidade, começa a ser substituído pelo amor de desejo, onde devemos querer, gostar e desejar a companhia, porém não precisar dela, e existe aí uma diferença muito grande.

O medo de viver só está desaparecendo, para não dizer que muitas vezes esta solidão é necessária. Segundo Nietzsche: “Odeio quem me rouba a solidão sem, em troca, me oferecer, verdadeiramente companhia”. E esta solidão, preenchida por muito pouco começa hoje a ser extirpada das necessidades humanas e todos estão aprendendo a se compreender e viver bem sozinhas. As pessoas estão se tornando inteiras e não mais frações e o outro precisa ser um bom companheiro para todas as situações, porém precisa também ser inteiro.

Não se trata aqui de um caráter egoísta nascendo em cada um de nós, pois o egoísta suga energia do outro e vive para si mesmo. O individualista parceiro dá um novo significado para as relações e busca a união de dois inteiros e não a aproximação de duas metades, assim respeitando e vivendo a individualidade de ambos.

Por isso, diferentes religiões, crenças, gostos, devem ser respeitados e compreendidos, deve-se ter a capacidade de viver a dois como se vivêssemos sozinhos, pois o saber viver sozinho nos dá dignidade e relações sem traços de domínio e concessões exageradas são mais perfeitas e justas. Somos únicos sempre e somos também as pessoas mais importantes em nosso mundo. Nossa forma de ver o mundo, pensar e agir não são referência para a avaliação de um outro ser, daí a tolerância surgindo e superando traços que nos levam a querer dominar.

A antiga história de “alma gêmea” deve também ser superada, pois acaba sendo apenas uma fantasia que inventamos. Cada um de nós é completo e não deve buscar coisas que não existem no outro. Assim, podemos ser mais compreensivos e tolerantes com as diferenças, respeitar o outro sem querer que ele mude, até pelo fato da mudança, quando esta acontece, poder ser artificial e danosa futuramente. O respeito pelo outro e pela maneira deste ser é vital, pois todos possuem uma maneira de ser própria.

Duas pessoas inteiras conseguem maiores chances de viver uma relação plena, o que é bem mais saudável se comparado ao modelo ”antigo” de relacionamento. Uma pessoa inteira e respeitada não precisa mentir, pode ser ela mesma em tempo integral. Uma pessoa inteira não precisa demonstrar felicidade, ela pode simplesmente sentir.

Não há monstros, fazemos nossas próprias escolhas e somos responsáveis por elas. Há momentos em que cometemos atos e de alguns deles nos arrependemos, mas eles também são de nossa escolha. Somos livres, nascemos livres, e até o fato de não fazermos uma escolha configura em uma escolha.

Segundo Sartre negar a liberdade é, uma tomada de posição covarde, a fim de fugir da angústia da escolha, e achar o repouso e a segurança na confortável ilusão de ser uma essência acabada. Cada ato nos define como somos, podemos agir de modo diferente sempre, pois sempre podemos mudar e fazer outra escolha. Podemos nos transformar indefinidamente. "Simplesmente descobrimos que existimos e temos então de decidir o que fazer de nós mesmos".

Então, devemos e podemos optar pela liberdade de escolher alguém inteiro, não temer monstros e buscar a felicidade. Chega de metades!

“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”. Nietzsche


Tadziu

segunda-feira, 8 de junho de 2009

COMO "USAR" A ESTÉTICA


Estamos no Século XXI, e ainda se compreende pelo senso comum que a Estética se limita a aparências externas onde não existe profundidade e onde a estética é meramente um gosto pessoal ou coletivo sem influencias mais importantes.

A Estética vem do grego e trata de sensação e percepção além de ser uma parte da filosofia que estuda a natureza do belo e os fundamentos da arte, onde são estudados os tipos de percepção daquilo que é belo e ainda como as emoções são produzidas. Estuda também aquilo que pode ser considerado feio ou ridículo.

Surge como um ramo significativo com o filósofo alemão Alexander Boumgarten (1714 – 1762) como um instrumento para nomear arte com base em criação da sensibilidade tendendo finalmente ao belo.

A Estética vem da Antiguidade grega e era aplicada a todas as formas de arte e evoluiu de maneira a refletir as sensações que provoca.

Atualmente é uma perspectiva fenomenológica onde não há um único valor estético (somente o belo) e o objeto passa a ter um tipo de beleza próprio, a partir de quem o julga, então o julgamento passa a ocorrer pela experiência e capacidade estética de avaliação de cada um.
Tratando do BELO, destacam-se dois fundamentos em especial:

A Estética iniciada como teoria, virou uma ciência normativa que utilizada lógica e moral – verdade, beleza, bondade. Passou a servir como julgamento de valores para normas gerais do belo, excedendo os objetos.

Adquiriu características da metafísica do belo, para buscar fontes originais do belo sensível: reflexo do que é cognitivo na matéria (Platão), expressão de sensível da idéia (Hegel), além de belo natural, belo arbitrário (do humano) entre outras.

Platão confinava o belo ao mundo das idéias, mantendo o bem e a verdade ligada à perfeição imutável.

Para Platão um juízo estético só é possível a partir de um ideal de beleza suprema e o belo é inseparável da beleza, do amor e do saber. O belo é o que possibilita levar o homem à perfeição e este buscaria cópias fieis e simulações para obter o belo, o que permanece assim até o século XVIII tendo flutuações maiores ou menores de ênfase na produção artística.

Aristóteles que foi discípulo de Platão modificou os conceitos e admitiu o belo a partir da realidade sensível, transformando o abstrato em concreto. A beleza aristotélica deixa de ser imutável ou eterna e passa a poder evoluir.

Aristóteles começa a romper com o belo ligado à perfeição e traz o belo para um mundo mundano onde a criação é humana.

Aristóteles traz evolução e permite novas perspectivas para o julgamento da produção artística de forma individual. Com ele o belo passa a ter critérios de equilíbrio, proporção, composição, ordenação e simetria. Seus conceitos ficaram por muito tempo engavetados e foram retomados no final da Idade Média.

Refutando ou concordando com ele, Kant é referencial em questões de estética e é sempre mencionado. Além da revolução copernicana ele trouxe outros temas à luz do debate. Até Kant o belo não podia ser compreendido pela razão e a arte era apreciada como prazer com o belo e a influência moral que causava na natureza humana.

O juízo estético para Kant vem do sentimento e é o intermédio entre razão e intelecto no homem. Segundo Kant não era possível existir regra teórica para construir o belo. Quando julgamos um objeto ele compreende algum principio geral ou está em alguma regra, e um juízo intelectual na regra não permite “inferir no que é belo”. O belo não depende de provas do intelecto, mas do senso de prazer que gera, então o belo surge de representações apreendidas sensivelmente.

Após Kant, temos Hegel que tende a retomar as idéias de Platão quando pensa o ideal de belo. Hegel diz: “a beleza só pode se exprimir na forma, porque ela só é manifestação exterior através do idealismo objetivo do ser vivente e se oferece à nossa intuição e contemplação sensíveis”.

Hegel traz conceitos espirituais e morais e julga o imaginário em formas atribuídas a deuses ou seres superiores transpondo a realidade dura da vida e projeta exemplos a serem seguidos. Para Hegel a beleza é a expressão máxima do IDEAL. O belo é espiritual e está no plano da imaginação do sujeito que julga a beleza.

Para Hegel os objetos considerados como belos o são por diversas razões, então ele considera o belo em si. “Não nos perturbam, portanto, as oposições entre os objetos qualificados de belos: estas oposições são afastadas, suprimidas (...). Nós começamos pelo belo como tal”. Acaba por determinar que “só é belo o que possui expressão artística”.

Há outras interpretações para estética, apreciações de outros filósofos, mas vamos mudar aqui para uma ESTÉTICA aplicada à vida diária. A Estética é uma reorganização não perene e vive em mudança permanente se renovando segundo a história, períodos, sendo uma reflexão da arte e diretamente influenciando e estimulando o avanço do pensamento.

Retomando um pensamento de Sêneca (4 a.C. — Roma, 65 d.C.) temos um conceito de necessidade de aprender a viver por toda a vida, e aprender a morrer. Ele apresenta ainda que o verdadeiro ócio só existe para quem tem disposição para a sabedoria e critica os que se desgastam durante toda a vida para ter um bom epitáfio.

O ócio é um “inimigo” criado como “pecado” para impedir as pessoas de pensar e se tornou instrumento capitalista para domínio e manipulação. Então, tenha algum ócio e pegue parte dele para pensar nos próximos conceitos (mas, o simples fato de conseguir algum ócio, já o fará pensar):

Não há como separar o humano da estética, pois esta é a nossa identidade (e a dos outros). A Estética é e está no dia a dia de nossa existência. Somos genéricos, somos humanos e somos estéticos; é como apreciamos os valores universais, é como nos colocamos perante as coisas e é nosso lado mais sensível e com menos limites.

A Estética é instrumento válido para compreender a sociedade e também indivíduos separadamente sendo socialmente ou individualmente por comportamentos e valores.

Atualmente em uma sociedade dita moderna, vivemos uma Estética universal e separada de outros aspectos de nossa existência, como nunca antes vivemos. Separamos força de trabalho dos meios de produção (conceitos marxistas) e o capital tão distanciado do trabalhador traz divisões sociais e junto uma ruptura no coração da humanidade.

A sabedoria e a apreciação estética tornou se divorciada do conhecimento e a ciência não é acessível a todos o que abala e compromete os valores que ficam contaminados pelas necessidades do capitalismo.

A estética assim surgiu agora como uma obrigatoriedade que nos leva ao consumo e é a única coisa real. A estética hoje é meio ou fim?

A Estética hoje traz marcas de beleza excedente, exacerbada e supérflua, e também subliminar de anúncios, influências de valores errados distorcidos, amor e ódio, sedução e medo em uma mistura confusa e perdida. Gera tensões de manipulação e delimita beleza e feiúra segundo valores necessários socialmente, que geralmente não são reais. Visa consumo, marcas, estética feminina tendendo para a anorexia, sentimentos bons sem lugar “útil”, preconceitos diversos, frustrações, violência, discursos perdidos e sem fundamento gerando vazios na verdade, mas ainda assim, nada escapa a estética.

Os elementos acima além de gerarem frustrações e dificuldades de convivência, trazem consigo o abuso da estética como valor de mercado o que transforma o valor da pessoa em si. Do individualismo assim gerado, surgem os estereótipos, o fingimento social e pessoal e daí também a solidão e o isolamento.

Continuamos a ter uma classe dominante que orienta o tipo ideal psicológico que devemos assumir. Não há uma verdade epistemológica ou um propósito político sério contra o pré estabelecimento de valores e juízos impostos pelo mercado, então os juízos estéticos possíveis são geralmente impostos e simplesmente aceitos.

Creio ter conseguido pincelar a importância da Estética, superando os conceitos mais simplórios de apreciação do belo e do feio e ter mostrado um instrumento a mais para a avaliação das pessoas em geral.

Tadziu

domingo, 7 de junho de 2009

SOBRE O PODER




O ex-chanceler britânico, quando questionado na televisão se gostaria ser o primeiro ministro, respondeu com certo espanto: ”qualquer um gostaria de ser o primeiro ministro”. Dessa vez eu fiquei surpreso, pois não acredito que todo mundo gostaria de ser o primeiro ministro; há muitas pessoas que sequer sonham com tal cargo – não somente por não terem a chance, mas por se tratar de um “elefante branco”*, mas porque achariam esse trabalho terrível: muita dor de cabeça, o peso da responsabilidade, antecipadamente se sabe que a pessoa estaria ininterruptamente exposta a ataques, ridicularizações, acusada das piores intenções, etc.
Então é ou não é verdade que “todo mundo quer poder?” Isso depende de como iremos estender o sentido desta palavra. No sentido mais amplo de “poder” consideramos tudo aquilo que nos permite influenciar o ambiente – natural ou humano – na direção desejada. Uma pequena criança que pela primeira vez levanta ou consegue andar está ganhando um certo âmbito de poder sobre o próprio corpo e percebemos que ela se alegra com isso; com certeza possivelmente todos gostariam de ter mais do que menos poder sobre as funções do corpo que podem ser controladas, como os músculos e as articulações. Quando aprendemos uma língua estrangeira, xadrez, natação, ou matemática, é nos possível dizer que adquirimos capacidades, graças às quais dominamos certo âmbito da cultura.
A definição tão ampla de poder é possível, por isso apareceram teorias de acordo com as quais tudo nas realizações humanas é submetido ao desejo de poder; todas nossas motivações originam-se na aspiração ao poder em suas mais variadas formas; tudo que intentamos – na verdade intentamos pelo poder, isso é a fonte de energia da vida humana. As pessoas desejam riquezas, pois a riqueza lhe dá poder tanto sobre as coisas, como até certo nível – às vezes considerável - sobre outras pessoas. Até o sexo pode ser explicado nas categorias de poder – se isso é pelo fato de nos parecer que possuímos o corpo da outra pessoa e deste modo à própria pessoa, ou se o possuindo excluímos os outros da sua posse e através dessa exclusão ou privação dos outros alcançamos a satisfação do monarca. O sexo é obviamente a criação da natureza pré-humana, mas toda a natureza (de acordo com essas teorias) está marcada com a mesma ambição, que nos humanos obtém outros aspectos formados pela cultura, porém na origem é a mesma coisa. Até mesmo os comportamentos altruístas, com certo esforço podem ser explicados da seguinte maneira: se fizermos bem para outras pessoas, é para controlar a vida deles, ou seja, conseguir poder parcial sobre eles, mesmo não estando conscientes desta motivação implícita. Então tudo na vida é uma busca pelo poder e nada mais existe, o resto é auto-ilusão.
Teorias como essas, com objetivo desmascarador, têm um aspecto confiável, mas explicam muito pouco. Cada teoria que explica todos os comportamentos humanos com um tipo de motivos ou toda vida da sociedade com uma espécie de energia geradora pode ser defendida, mas isso mostra que todas elas são inúteis e no final são construções filosóficas.
Isso nos esclarece algo, pois se dissermos, por exemplo, que se um homem dedica-se ao o próximo, ou se o tortura, suas motivações continuam as mesmas, então não há definições ideais, com a ajuda das quais possamos julgar essas coisas ou até distingui-las do ponto de vista de seu acontecimento, pois sempre se trata do mesmo (a teoria serve, porém para aqueles que tenham vontade de dizer com prazer: não tenho motivos para ter a consciência pesada graças às minhas maldades, pois todos são iguais). Uma tentação mental semelhante descobrimos nos cursos do pensamento cristão – hoje raros, antigamente potentes – de acordo com os quais, sempre fazemos o mal, caso nos falte a inspiração de divina, e quando a temos, por necessidade fazemos bem. Disso resulta também que quando não temos essa inspiração, tanto faz se ajudamos os próximos ou os torturamos, iremos para o inferno, como foram todos os pagãos, mesmo os mais nobres. Nessas teorias procura-se sempre uma chave mestra que abre todas as portas, explicando tudo. Mas não existe uma chave dessas, a cultura cresce através da diversificação, pela criação de novas necessidades e independência das antigas.


Se a teoria segundo a qual nada há dentro de nós, além do desejo de poder é inocente e pouco explica, contudo ninguém vai negar que o poder é um bem extremamente desejado. Na maioria das vezes quando falamos de poder, temos em mente um sentido mais estreito que esse, ou seja, poder que consta em disposição dos recursos que nos ajudam a influenciar – com violência ou ameaça de violência – o comportamento das pessoas e controlar esse comportamento de acordo com as intenções do monarca (unitário ou agregado). O poder neste sentido pressupõe a presença de ferramentas organizadas de coerção, e no mundo contemporâneo – a presença do estado.
Será que cada um de nós deseja o poder neste sentido? Certamente todos gostariam, que os outros se comportassem de acordo com o seu parecer, ou seja: ou de acordo com o seu sentido de justiça, ou de uma maneira mais proveitosa para ele. Porém isso não significa que todos gostariam de ser o rei. Como diz Pascal, somente o rei privado do trono é infeliz, pelo fato de não ser o rei.
Apesar disso é sabido, que ter o poder, muitas vezes – ainda que não sem exceções – corrompe as pessoas, porque as pessoas que por muito tempo gozaram de certo considerável nível de poder têm no final a sensação, de ter o direito ao poder pela força de uma ordem natural, do mesmo modo que o poder dos antigos monarcas deveria ser de origem divina, e se por alguma razão o perdem, consideram isso uma catástrofe cósmica, pois a luta pelo poder é a principal causa das guerras e de todos os males do mundo, apareceram utopias anárquicas infantis, que inventaram para tudo isso um remédio de salvação: eliminar o poder em geral. Mais que isso, as utopias dessas estão divulgadas às vezes pelos pensadores que atribuem ao poder o sentido mais amplo possível, dizendo, por exemplo, que o poder dos pais sobre os filhos é por natureza uma terrível tirania: com efeito, pareceria até que quando os pais ensinam os filhos a língua materna, estão executando uma violência tirânica, tirando delas a liberdade e que melhor seria deixá-los em estado animal, para que inventassem o próprio idioma, costumes e toda a cultura. Mas o anarquismo menos absurdo tem na mente a eliminação do poder político: vamos suprimir todos os governos, as administrações e tribunais, e o povo vai gozar de nata fraternidade.
Por sorte não há como fazer uma revolução anárquica por encomenda: a anarquia aparece quando por quaisquer razões todos os órgãos do poder se destroem e ninguém está no controle da situação; o resultado tem que ser, o de uma força, que quer o poder indivisível para si – e sempre existem aqueles – que irão se aproveitar da confusão geral e desmoralização, impondo a própria ordem despótica; o mais espetacular exemplo disso foi a revolução russa – a instituição do despótico governo bolchevique graças a uma geral anarquia social. O anarquismo está praticamente a serviços da tirania.
Não, o poder não pode ser eliminado, pode-se somente substituir o melhor pelo pior, ou às vezes o contrário. Infelizmente não é assim, a eliminação do poder político não tornará todos irmãos; como os interesses das pessoas estão em conflito por natureza e não por acaso, como é inegável, trazemos em nós uma certa dose de agressividade, como as nossas necessidades e caprichos que podem crescer infinitivamente – então se as instituições de poder político por milagre desaparecessem, o resultado seria não a fraternidade geral, mas sim, um massacre geral.
Nunca houve e nunca haverá “o poder do povo”: isto é tecnicamente impossível. Podem apenas existir vários instrumentos, com ajuda dos quais o povo fica acima do poder e está em condição de trocá-lo por outro. Claro, quando o poder já se encontra no lugar estamos sujeitos às várias limitações e em muitos assuntos importantes não temos escolha; não temos escolha sobre mandar ou não os nossos filhos para a escola, pagar ou não pagar os impostos, passar ou não passar no exame para obter a carteira de habilitação (se quisermos conduzir), e isso se aplica a milhares de outros assuntos.
O controle do povo sobre o poder não acontece também sem erros, o poder democraticamente escolhido também é sujeito à corrupção, as suas decisões freqüentemente estão em conflito com os desejos da maioria, satisfazer a todos nenhum poder consegue, e assim por diante. Essas são coisas banais, conhecidas por todos. Os instrumentos do controle do povo sobre o poder nunca são perfeitos, mas a coisa mais eficaz que a humanidade inventou, para evitar a tirania arbitrária foi exatamente: consolidar os instrumentos de supervisão social sobre o poder e limitar o âmbito do poder estatal até o mais indispensável, para manter a ordem social. A regulação de tudo o que as pessoas fazem nada mais é que o poder totalitarista.
Poderíamos então – e deveríamos – tratar os órgãos de poder político com suspeita, checar o mais possível e caso necessário reclamar deles (e quase sempre é necessário), mas não deveríamos reclamar da própria existência do poder, da própria presença dele, a não ser que inventemos outro mundo, o que já foi a tentativa de vários, porém sem sucesso.

Baseado nas idéias de Leszek Kołakowski, filósofo e historiador polonês, muito conhecido por suas críticas ao marxismo.

Tadziu

sábado, 6 de junho de 2009

“Médium e In Integrum”



Há cursos de formação de médiuns, o que é muito interessante. Prometem aos alunos um curso, com base no Evangelho, o desenvolvimento da própria mediunidade (pois dizem que todos temos) dentro das bases e princípios da Doutrina do Espiritismo.

Vi ainda afirmações sobre mediunidade sendo exercida de forma mecânica, e sendo assim, aleatoriamente sem um objetivo definido. Daí a importância de aprender, reconhecer a própria mediunidade e assim, usar este “poder” ou capacidade individualmente e para a sociedade.

Como grandes facilidades no desenvolvimento e transformação de uma pessoa em Médium estão:

- não há como questionar se é ou não verdade, pois não há fundamento e muita coisa se confunde com delírio. Muito daquilo em que você irá acreditar estará somente no senso comum;

- geralmente você é socialmente respeitado e visto até com um certo medo pelos outros. Raramente alguém te diz que você é pirado, pois trata se de um tipo de religião, que a maioria das pessoas tem;

- além dos evangelhos você tem como bibliografia alguns livros de Kardec e alguns mais, uma bibliografia não muito grande, e dará lucro a pessoas que perceberm esta fatia de mercado;

- não exige especial esforço ou engajamento, uma vez que a mediunidade já está em você e não há limitações ou pré requisitos para seu desenvolvimento, além de sua própria alienação;

- você terá logo a sensação de ser especial e diferente dos outros. Sentirá até mesmo que é superior e melhor, e como muito disso está na área da metafísica, você fica sossegado dando explicações que ninguém pode realmente confirmar ou testar.

Mas e para ser “In Integrum” ou seja, por inteiro?

Você terá que rejeitar a maior parte da metafísica, religiões e semelhantes e pensar de forma racional e lógica. Terá um aprendizado que nunca termina, que nunca te satisfaz, e buscará um desenvolvimento mental e físico permanente. Terá que optar por um dos tantos cursos embasados de forma epistemológica e aceitar que não é possível conhecermos tudo, que os maiores valores estão na realidade e que é possível ser feliz nela.

Entre as maiores dificuldades você terá:

- será questionado e você mesmo questionará a validade das coisas. Quase nada daquilo que você acredita estará no senso comum;

- você com seu racionalismo e lógica terá alguns problemas em sociedade, mas poderá ser realmente respeitado, só que terá mais trabalho;

- seu esforço será grande, pois o conhecimento não é fácil de ser obtido e os meios para isso e a bibliografia são intermináveis e sempre serão, pois produzimos conhecimento a cada instante;

- em muitas das exigências que o conhecimento traz, você terá embasamento empírico e capacidade para uma real apreciação das coisas, então viverá o que há de melhor e tentará transformar o mundo não com bases fundamentadas em nada, mas em uma real vivência.

Então a concepção de tornar se algo não completo é meio estranha. Se realmente todos tivessem a tal mediunidade e agissem de acordo com estes conceitos, a Sabesp teria que, além do flúor, misturar psicotrópicos na água para manter a sociedade em uma relativa normalidade.

A realidade é realmente dolorosa, não é fácil vive la, porém fugir por um caminho médio é no mínimo mais um paradoxo entre tantos que vivemos e talvez um dos menos necessários.


Lembrem-se: Eu ouço vozes, e elas não gostam de vocês!


Tadziu

ENCOSTO - Eu acredito!



É muito interessante notar como as pessoas interpretam fatos. Bocejos, algum desconforto, qualquer tipo de dor ou peso nos ombros ou costas, apesar de tantas explicações possíveis de forma clínica ou lógica, tantas vezes são interpretadas como sendo um encosto. Chega a ser bizarro... Se você tem algum sintoma do gênero, procure um médico, e se achar que o problema é espiritual, PROCURE UM MÉDICO!
Estamos no século XXI e a sensação é a de que ainda somos os mesmos e vivemos como Belchior. Religiões “mais sérias”, exigem hoje exames científicos da questão até dizer que algo espiritual acontece, e como não querem correr o risco do ridículo, raramente admitem um absurdo com facilidade. Outras, que querem ter como foco de atração os espíritos de esquerda, encostos e outras coisas do gênero, saem dizendo que tudo o que não é bom é encosto. Logo não existirão mais cadeiras por esta lógica, somente teremos banquinhos...
Ah, energias, coisas estranhas nos afetam, não podem ser explicadas e então são generalizadas como encosto. Nossa, mas pode ser um carma, e um carma serve para que você possa evoluir, então tem que quer vivido... por qual motivo então você quer se livrar do encosto?

Ah, por estar velho e acabado.

Na verdade, a melhor tradução, interpretação e avaliação de encosto é: tirar totalmente sua liberdade pura e de escolha e culpar algo ou alguém, mitológico ou não, por uma incapacidade ou falta de vontade sua. Assim, você literalmente “encosta no seu encosto” e se sente livre, inocente, vítima, ou, diz que tem um encosto e pede para alguém misticamente removê lo, pois te incomoda, e o pior, ainda encontra gente que consegue ver o desgraçado, geralmente por cima do seu ombro esquerdo...
Há possibilidades, alguns “ous”: ou sua dosagem de bom senso está baixa, ou a dosagem de alucinógenos do outro está elevada, ou você está com medo da vida, ou a esquizofrenia do outro tá em alta, ou você está se enganando, ou esta sendo enganado por alguém, ou ainda, tudo junto... e tantas outras variantes.

Viva, seja responsável, faça escolhas e se não acertar, mude, tente de novo, tente sempre ser ético, enfim, você é o Seu Senhor e nada lhe faltará.

Tadziu

BUUUUUUU




"A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos." Freud
Acredito nada ainda ter comentado sobre espiritismo. Na verdade, tenho também em meu círculo de amigos alguns espíritas. Alguns talvez se ofendam depois de meu parecer sobre o assunto, outros até poderão pensar que tenho um encosto qualquer, mas já aviso que os meus próximos dois gatos serão batizados de: Encosto e Mau Olhado.
Alan Kardec talvez seja o principal representante e inventor do espiritismo, e tentou fazer com que suas fantasias se mostrassem de forma “lógica e racional”, tentando explicar o sobrenatural, que ainda assim permanece graças à nossa ignorância científica e limitações tecnológicas, tentando se mostrar superior sem nenhuma modéstia, tentou criar explicações “sensatas” para fenômenos que deveriam ser tratados com antidepressivos.
O Espiritismo se julga uma ciência, apesar de não passar de crença e mito sem fundamentação real ou válida. Ainda assim, tenta tratar da natureza e daquilo que ainda não compreendemos como real e espiritual, separando as relações humanas carnais de outras.
Joana D’Arc foi queimada na fogueira por ter errado. Ela recebia e transmitia forças espirituais até ter falhado e perdido a importância. Da mesma forma, durante muitos anos, relíquias foram usadas em guerras para dar maior força ao lado que as possuía, e qualquer que seja a religião ou a fé, quando levadas às últimas consequências, realmente devemos pensar em tratar de loucura ou no mínimo, de uma imaginação um tanto fértil que merece tratamento.
Na obra Os Mísseis Desgovernados da Religião, O biólogo Richard Dawkins nos diz: “Não há dúvida de que o cérebro suicida e obcecado pela vida após a morte é uma arma poderosa e perigosíssima”. É pouco provável que as religiões venham a abrir mão de uma arma formidável como essa em nome de simples, meras constatações científicas.(…)”

“(…) a noção da imortalidade da alma é a base de muitas das religiões mais populares do mundo. A idéia da morte após uma vida breve num mundo repleto de injustiças, violência, miséria e desgraças desigualmente distribuídas, parece ser bastante angustiante para a maioria das pessoas. Sem a doutrina da vida após a morte, em que haveria a vida eterna e em que os bons seriam recompensados e os maus punidos, dificilmente as religiões conseguiriam ser tão influentes sobre seus adeptos como o são hoje e sempre foram.”

James Randhi é um tipo de excêntrico milionário e dono de um instituto nos EUA e oferece US$ 1.000.000,00 para qualquer um que consiga demonstrar o sobrenatural, poderes, desde que comprovados em exames. Curioso observar que até hoje nada disso aconteceu. Claro, os Espíritas e religiosos em geral possuem desculpas para não ser possível, mas nenhuma é convincente o suficiente.
Um dos mais comuns é dizer que espíritos não estão aqui para nos mostrar coisas ou trazer benefícios. Mas é interessante que muitos “médiuns” digam, que estão aqui exatamente para ajudar espíritos... bem, falácias à parte, são apenas falácias.
E como age um dito “médium” quando seu conselho é péssimo e prejudica alguem? Ah, simples, havia algo de predestinado e o outro tinha que passar por aquela prova. Pois é, não há liberdade, tudo é predestinado, ninguém é livre e ninguém tem escolhas. Se é assim, para o que serve toda esta balela de espiritismo mesmo?
Toda e qualquer religião lida com crença, com fé. O que é variante está apenas no nível de insanidade e fanatismo, geralmente vinculado aos líderes que interpretam conforme o seu próprio desejo aquilo que está escrito. Nietzsche já dizia que o sacerdote que acredita ser aquele que detém a autoridade e é o competente para tratar de leis divinas, é uma das piores criaturas que pode existir na terra.
Segundo Freud, a religião é comparável a uma neurose da infância.
Se pensarmos com seriedade, a resposta a questões sérias de caráter religioso, dadas por qualquer religião, surgem de meios e períodos obscuros, onde a ciência era pouco desenvolvida, não existia ou era proibida, onde a racionalidade não existia e o mito era verdade.
Os céticos são ainda minoria e o senso comum o que predomina. Há mais acesso a assuntos metafísicos (no pior sentido da palavra), como astrologia e outros tantos, Paulo Coelho é mais lido que qualquer filósofo que já existiu ou existe (sendo este deísta ou ateu), e a sociedade continua sendo controlada por elites que entre outros instrumentos de controle usam também a religião.
Talvez neste momento você esteja de saco cheio de meus “ataques”, e esteja até pensando que perdi minha sensibilidade em algum lugar. Não é o caso. Observe que o uso de crenças e religiões tem um objetivo não espiritual, que sua felicidade está em suas opções, pois você nasce livre e o mundo precisa de atitudes, e que a paixão da religião é alienante e sempre visa o controle, o que acontece pela exploração da fé.
Talvez a ciência não lhe possa dar todas as respostas, talvez isso jamais aconteça, mas também não lhe trará dogmas e não lhe dirá que você deve acreditar em absurdos. Você não terá que rezar, temer a um deus que irá te rachar com um raio, sentir culpa por fazer algo que gosta e não prejudica ninguém, enfim, não irá lhe dizer que você queimará no inferno por não acreditar em coisas absurdas.
"Seria muito simpático que existisse Deus, que tivesse criado o mundo e fosse uma benevolente providência; que existissem um ordem moral no Universo e uma vida futura; mas é um fato muito surpreendente que tudo isto seja exatamente o que nós nos sentimos obrigados a desejar que exista." Sigmund Freud
Tadziu

terça-feira, 2 de junho de 2009

ATEÍSMO - UMA PERSPECTIVA



Minha idéia aqui é esclarecer o tipo de ateísmo que acredito ser o “correto”, ou melhor, como vejo a questão e seus valores relacionados à emancipação de nossa espécie como humanos. Ainda que eu tente ser totalmente neutro, inegavelmente é um registro de pensamentos e como qualquer outro valor ou julgamento, acaba sendo também uma ideologia, um ponto de vista, entre tantos possíveis, então não faça um julgamento radical sobre este ser um parecer único, inquestionável e de plena razão, pois não é. O maior intuito aqui, é trazer a dúvida, a reflexão, e gerar em cada um a vontade e a capacidade de pensar e desenvolver seu próprio ponto de vista.
Diferentemente de uma religião, as idéias aqui expostas não trazem dogmas, fatos baseados em convicção e certeza, e tudo está aberto para discussão, porém jamais sem fundamentos ou com bases em discursos teológicos onde a Bíblia é aceita como verdade e milagres como fundamentos, etc.
“Um outro sinal distintivo dos teólogos é a sua incapacidade filológica. Entendo aqui por filologia (...) a arte de bem ler – de saber distinguir os fatos, sem estar a falseá-los por interpretações, sem perder, no desejo de compreender, a precaução, a paciência e a finesse”. Nietzsche em O Anticristo.
Por estarmos no ocidente, o foco principal será toda e qualquer religião cristã, até pelo fato de ser de melhor domínio (meu e provavelmente seu), mas os aspectos são válidos para qualquer crença ou religião, pagã ou não, e aspectos metafísicos serão desprezados.
Religião aqui tratará de judaísmo, cristianismo e islamismo (foco em cristianismo e superficialidade nas outras duas), lembrando que as três possuem origem no mesmo lugar geográfico e ainda, no mesmo deus.
Ateísmo é a total descrença na existência de deus, qualquer um. Pode surgir pelo simples ceticismo de um ser pensante pela incrível estrutura mística das religiões que é tão paradoxal, incompreensível ou sem fundamentos reais, ou pela simples dificuldade de ter fé.
Vale a pena lembrar o filósofo Montaigne: “Para os cristãos, encontrar algo inacreditável é uma bela ocasião para acreditar” e ainda: “Os homens tendem a acreditar, sobretudo naquilo que menos compreendem”.
Há graus de ateísmo, indo de afirmações rigorosas sobre a não existência de qualquer deus a apenas descrença simples sobre a existência de algum deus, o que pode classificar os ateus em ativos e passivos. O ateu passivo esta presente em todo aquele que é cético, somente isso. O ativo talvez possa ser aceito como uma graduação mais forte e presente de vivência da “não religiosidade”.
Pessoalmente, acho cansativo e desgastante a discussão sobre a existência ou não de um deus e, apesar de não acreditar, vejo como válido para nosso desenvolvimento compreender o tipo de máquina de manipulação que a sociedade cria utilizando deus para, através das religiões, convencer, alienar, manter sob controle e obter lucros com as pessoas e mantendo um grupo ou grupos sociais no poder.
Outro importante aspecto que escapa definitivamente de qualquer deísta é: não acreditar que algo é verdadeiro não é o mesmo que acreditar que algo é falso. Não vejo o ateísmo partilhando de dogmas como acontece com os deístas, que possuem uma certeza convicta da existência de um deus.
Claro, começa a surgir hoje um tipo de ateu que é dogmático, fenômeno que acontece em qualquer área de conhecimento humano, mas isso é condenável e limita a capacidade de desenvolvimento e apreensão da verdade.
Como qualquer outra apreciação de mundo pela razão, a compreensão daquilo que é um ateu terá o aspecto que o próprio ateu lhe dá, e também aquela compreensão que o não ateu tem e muitas vezes, ambas estão erradas. Um ateu é apenas alguém que não acredita em deus, é apenas uma pessoa, e deve ser apreciada por seus valores, principalmente os éticos, sem se considerar deus como algo que aquele que crê torna se melhor ou pior, pois aí surge a intolerância. Não posso deixar de lembrar, que a intolerância incrivelmente está presente entre pessoas deístas cristãs, onde uma acha que a religião própria é melhor que a do outro, superando o valor maior que seria o mesmo deus.
As religiões trazem um grande mal em si mesmas que é a moral. Moral não necessita de fundamentação, de lógica, de nada que a legitime, basta que exista. Uma das melhores possibilidades que temos de evoluir como seres humanos é desenvolver a ética, que compreende respeito, aquilo que pode ser bom para um só e para a sociedade, estabelecer normas reais de relacionamento social. Temos mais de 2.000 anos de cristianismo, estudos bíblicos, manipulação de textos e interpretações fantásticas, e tão pouco estudo de ética, o que poderia ter nos levado a uma situação de vida social muito melhor e com menos mortes e guerras em nome de deus.
Não há evidências da existência de deus, nada, nenhuma, tudo é uma questão de fé, que é a convicção plena de que algo é verdade, sem exigir prova, fundamento, nada, é uma confiança depositada em algo ou alguém. Qualquer um que realmente esteja lendo este artigo com um olhar crítico não pode negar que isso é um fato, ainda que possa não estar errado.
Há uma premissa interessante para se questionar a validade da existência de deus, bem, há várias, mas vamos a um exemplo questionador:
Creio que para todos é sensato pensar que nada existe até que se encontrem evidências do contrário. Teístas usam da mesma regra em grande parte do tempo. Teístas não acreditam na existência de centauros ou sereias, porém não podem provar que não existem, ainda que existam marinheiros que digam ter ouvido ou até mesmo visto sereias.
Um ateu do tipo ativo não elimina a possibilidade de existência ou a inexistência de todo e qualquer deus, mas restringe a existência de vários deuses apreciados e reverenciados por várias religiões. Talvez um dia, seja possível demonstrar que não há deus algum, mas talvez isso não venha a acontecer.
Mas, se deus cria, faz mudanças, participa da criação e desenvolvimento do universo, deveriam existir manifestações físicas do fato, ou seja, deveria ser possível realmente detectar um deus por algum princípio, mas isso só acontece pela fé, sem fundamentação ou prova, onde discursos teológicos produzem conteúdos “brizolísticos” na tentativa de legitimar a sua existência. Por outro lado, se deus se afasta da prova física e apenas existe como muitos querem acreditar, sua existência ou não se torna totalmente dispensável.
Diferentes religiões concebem deus de diferentes maneiras e da mesma forma, diferentes ateus de formas distintas.
Há inúmeros tipos de discursos teológicos buscando demonstrar a existência de deus de forma lógica. Mas a lógica neste caso se torna retórica. A lógica somente poderia ser válida se estivesse de acordo com a realidade, e quando isso não acontece, prevalece a realidade.
Diferentemente daquilo que muitos pensam, ateus não são burros, não possuem dogmas, não destroem outras culturas ou religiões (como fazem os teístas), não impõe verdades, e caso lhes seja apresentado fundamento, prova contundente, a grande maioria mudaria de opinião.
Porém, as provas das quais dispomos se limitam a experiências místicas (religiosas) de outros, e isso jamais será o suficiente. Afirmar que deus existe e provar o fato, exige algo indiscutível, universal, testável, extraordinário como a própria existência de deus e tal tipo de evidência nunca foi apresentada.
Há ateus capazes de duvidar até mesmo da existência do Universo, que são céticos para praticamente tudo, porém não há entre as pessoas de fé, algum que realmente duvide da existência de deus, o que faz com que este não busque a verdade, além da palavra escrita na bíblia.
Segundo Nietzsche: “Não posso acreditar num Deus que quer ser louvado o tempo todo”.
Pensar ou considerar que ateus são hostis à religião é relativamente incorreto. A grande maioria dos ateus é neutra, não se importa. Critica, vê as implicações que a religiosidade tem na sociedade, mas não quer “converter” ninguém ao ateísmo, isso não faz sentido. O grande problema está no contrário, pois o ateísmo é ainda visto como socialmente incompatível e inaceitável.
Claro, há historicamente situações como as da ex União Soviética, Stalin, mas aí também havia um interesse de manipulação e não uma idéia de emancipação e evolução. Os excessos cometidos pelo regime excederam qualquer coisa que Marx tenha dito ou idealizado a respeito e sequer politicamente foram fiéis a seus ideais.
Entre as influências religiosas importantes e danosas, está sua força na política, que mesmo em Estados ditos laicos, se impõe e com sua força traz normas, leis e uma moral não ética que toda a sociedade deve engolir.
Somos todos humanos, e por isso, seres sociais e comunais. Um ateu não se torna anti social pela falta da crença em um deus e por outro lado, se uma pessoa precisa de um deus para ser social e seguir certos valores, ela é perigosa, pois se por alguma razão ela perder esta fé, nada restará.
"O homem procura um princípio em nome do qual possa desprezar o homem. Inventa outro mundo para poder caluniar e sujar este; de fato só capta o nada e faz desse nada um Deus, uma verdade, chamados a julgar e condenar esta existência." Nietzsche
Apesar de eu não gosta da palavra, há mais ateus morais que religiosos morais. A questão está focada na hipocrisia e falta de liberdade que aquele que possuí uma fé e uma religião traz consigo. Culpa é uma das maiores seqüelas. Ainda que algo seja socialmente imoral, pode não ser em um determinado grupo, e sem a culpa religiosa é mais fácil ser feliz.
Há ateus “leves” que gostariam que deus existisse, o que nada prova. O fato de cinco bilhões de pessoas acreditarem em algo não torna isso uma verdade.
É curioso notar, que a grande maioria dos ateus já acreditou em deus de alguma forma, porém entre os teístas isso não é uma verdade, o que não lhes mostra que acreditar ou não nada muda a vida e os eventos, ou a responsabilidade que devemos ter socialmente.
Para uma discussão possível e saudável com um ateu é necessário ter um espírito livre e a mente aberta, não vivendo somente do senso comum, ou seja, abrir os olhos para a possibilidade da não existência de deus, e creio que este é o maior objetivo deste artigo.
Para muitas pessoas religiosas, a fundamentação que valida a fé está no futuro, na “pós vida”, na ressurreição em deus e tantas outras coisas semelhantes.
“É cristão todo o ódio contra o intelecto, o orgulho, a coragem, a liberdade, a libertinagem intelectual; o ódio aos sentidos, à alegria dos sentidos, à alegria em geral, é cristão...”
Tem se a errada impressão de que sem uma divindade, um deus, a vida fica desprovida de sentido. Isso não é real; temos objetivos, que no final são os mesmos sem a tal divindade. Todos querem a felicidade, deixar uma colaboração relevante no mundo, etc. A vida possui um grande sentido em si mesma, pois a vida existe e é única, o que a faz mais especial para um ateu, pois é a única.
Não há sentido em acreditar em algo por medo da realidade, em procurar conforto em mitos.
As religiões, além do desrespeito e da intolerância em suas imposições, prejudicam a liberdade de outros sejam estes de outras religiões ou ateus. Preservativos, abortos, aids, tudo é considerado a partir somente da ótica da religião dominante. Sem mencionar a intolerância em relacionamentos e de tantos outros tipos.
Além da difícil comprovação dos fatos bíblicos (não falo dos históricos), mas dos “sentimentais”, as religiões vem transformando a interpretação, os textos, reciclando tudo segundo suas próprias necessidades, inclusive a partir de outras religiões mais antigas e pagãs.
Resumindo:
Estamos em um momento histórico onde o egocentrismo predomina e as religiões não parecem estar trazendo alguma resposta valorosa para um comportamento mais solidário, e ainda colaboram para um maior afastamento das pessoas.
Falta ética no mundo, e as religiões trazem apenas uma moral hipócrita trazendo uma transformação ou melhora quase imperceptíveis, ainda que mantenham um controle social, pois fazer com a que as religiões sumissem de vez (se fosse possível), seria um erro e provavelmente traria problemas sociais sérios.
É importante que sejamos existencialistas e responsáveis, pois as coisas mudam quando mudamos a nós mesmos, sem esperar que “uma força externa” faça o nosso trabalho.
Acreditar por acreditar é senso comum, e isso não pode ser bom. Não acredite simplesmente por achar que seria melhor se assim fosse e considere que toda e qualquer crença é senso comum e deve estar aberta a questionamentos.

Tadziu