domingo, 27 de fevereiro de 2011

ALGO SOBRE A EMANCIPAÇÃO DO HOMEM

Há inúmeros pontos de vista a respeito daquilo que é correto socialmente. Surgem termos “politicamente corretos” que passam a ser usados como se estivessem realmente transformando a sociedade em algo melhor. Ficam as palavras, geralmente desprovidas de uma realidade que lhes dê embasamento e atitude, e no fundo, além do discurso, absolutamente nada muda. A mudança não surge a partir de um novo vocabulário, pois tanto faz que tipo de palavra você use. Caso não sinta da maneira correta, não modifique a alma, a essência, nada terá mudado.

Continuamos a viver uma ilusão de estar mudando o mundo, tornando-o melhor, e trazendo mais e maiores ilhas de isolamento e fragmentação da sociedade.

Vegano, vegetariano, religioso, ateu e tantos outros “modismos” e MODISMOS, além de não transformar as pessoas em algo melhor, segmentam a sociedade causando mais fraturas e dificuldades de convivência e diálogo social.

Educação e história são desprezadas e o foco maior tem sido dado para a punição. Coisas como “prisão para quem maltrata animais”, multas aleatórias para infrações diversas, penas sem elementos educativos entre outras coisas.

Não estou dizendo aqui, que a punição, que o poder coercitivo do Estado deva ser eliminado, mas, não pode ser o único foco, o único ato. A educação, elemento que realmente pode modificar algo, é deixada geralmente de lado.

Termos são misturados a fatores irreais. Não existem pessoas vegetarianas e carnívoras, mas vegetarianas e onívoras.

A questão do vegetarianismo excede a lógica e tenta se impor como uma salvação. Basta comer vegetais e você será uma pessoa melhor. Desconsidera-se totalmente o fato da falta de alimentos na maior parte do mundo, a incapacidade das pessoas para uma dieta saudável, seja ela vegetariana ou não. QUASE NINGUÉM SABE SE ALIMENTAR DE FORMA CORRETA. Todavia, não vamos esquecer que uma alimentação correta é MUITO cara e pouco acessível a todos.

A mesma problemática surge em relação às religiões. Você pode apresentar comentários com imagens de santos ou Deuses, com metáforas bíblicas acompanhando, porém não pode fazer críticas ou ironias. E TODOS dizem que respeitam a todos. Estamos condenados a ser livres e precisamos aprender a lidar com a liberdade.

De forma geral, a sua religião é sempre melhor que a do outro...

- uma pessoa não é melhor ou pior por comer ou não carne;
- uma pessoa não é melhor ou pior por ter ou não uma religião;
- uma pessoa é uma pessoa e ela pode ou não ser boa. (simples assim).

Existe a necessidade de uma análise contextual abordando sociologia, antropologia e história, e assim, pensarmos em possíveis mudanças sociais e maior tolerância.

Pessoas criticam a China de forma agressiva, desconsiderando coisas básicas. No Brasil ainda temos a farra do boi, cometemos inúmeros tipos de crueldade com os animais e não somos capazes de resolver esta questão interna. Todavia, de forma arrogante, criticamos atitudes de outros países, sem considerar sua cultura, educação, necessidades e outros tantos elementos que um dia poderão ser modificados. Queremos ser ditadores em território estrangeiro impondo as nossas verdades. Mesmo em São Paulo, uma grande metrópole, a maior parte da população desconhece o que é posse responsável, e ainda assim, queremos mudar um país distante.

O pensamento do homem REAL virá das idéias que são os agentes fundamentais que podem transformar a história. Este tipo de idéia pode ser encontrada em Marx e Engels de forma genial.

As idéias de forma geral, assim como o seu desenvolvimento, surgem da evolução material do homem, assim sendo, a história das idéias precisa ser vivida por “homens reais e vivos” que lutam por sua sobrevivência e com a vivência criam as relações.

Temos que considerar então: filosofia, religião, valores morais (ainda que os éticos sejam melhores), leis, pois lidamos com elas e contamos com estas como instrumentos que podem gerar também mudanças, e resumidamente, tudo leva a uma formação da mentalidade social. Então, é na realidade material que teremos as idéias e é com a educação que as conseguiremos.

São os homens que desenvolvem a sua produção material e o seu intercâmbio material que, ao mudarem essa sua realidade, mudam também o seu pensamento e os produtos do seu pensamento. Não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a consciência. (MARX, ENGELS)

A EDUCAÇÃO, pensada por Marx, não é independente ou desvinculada da realidade MATERIAL do homem, o que deve ser pensado e considerado como parte do processo educativo e o homem, dentro deste processo é um ser abstrato onde, as idéias gerais da humanidade dentro do processo educativo devem ser trabalhadas levando em conta a problemática histórica da época social e todos os elementos que fazem parte dela.
Educar não é um ato arbitrário e exige etapas a serem aplicadas na evolução das relações vividas. Não há meio que possibilite desvincular as idéias e os interesses históricos das classes sociais onde se encontra o conhecimento sistematizado e tido como real, constituindo um resumo das relações sociais.

Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre outras coisas, uma consciência, e é em consequência disso que pensam; na medida em que dominam enquanto classe e determinam uma época histórica em toda extensão, é lógico que esses indivíduos dominem em todos os sentidos, que tenham, entre outras, uma posição dominante como seres pensantes, como produtores de idéias, que regulamentem a produção e distribuição dos pensamentos de sua época; as suas idéias são, portanto, as idéias dominantes de sua época. . (MARX, ENGELS).

A educação é então herdada e esta herança é o conhecimento já pronto e sistematizado das gerações que antecederam. Não adianta tentar impor, atropelar, criticar cruelmente, pois tais atitudes retardam qualquer aprendizado e mudança comportamental.

Os homens fazem sua própria História, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstância de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como pesadelo o cérebro dos vivos. (MARX).


Então, temos pela valoração de Marx e Engels, uma ligação direta entre o desenvolvimento material do mundo e os interesses das classes, e além disso, o valor do papel político que transforma a sociedade por uma eventual prática libertadora que pode modificar a mentalidade e construir uma ordem social nova.

A emancipação do homem, a possibilidade deste se tornar melhor, livre de ilusões e ideologias impostas deve vir de uma práxis modificadora do mundo, e o processo é lento e doloroso.

Por ora, resta tentar aprender a viver e modificar o mundo pela educação. Agir somente na linha final, prendendo, punindo, criticando, já se mostrou altamente ineficaz e irreal, apesar de nem todos terem notado isso.

Muitas das coisas hoje impostas como corretas são modismos e logo desaparecerão. Todavia, lembre também que muitas coisas tidas como corretas hoje, foram condenadas no passado.

Pense nisso!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Crônica de uma cantora lírica tupiniquim

Crônica de uma cantora lírica tupiniquim



Quero através desta expressar e dividir minhas indignações profissionais atuais. Eu, enquanto cantora lírica no país do rebolation, venho convocar meus companheiros e companheiras de classe operária – a musicista – nessa luta pelo reconhecimento de nosso valor profissional.

Só não quero ter que perder o dedinho, porque vai que isso afeta minha voz...Cantor tem dessas coisas; toma coca-cola quente (delíiiicia!!), porque gelado pode fazer mal, e o cara tem que cantar num concerto sábado. Melhor prevenir. Por via das dúvidas, melhor parar de tomar leite, comer chocolate, por causa do pigarro. Já que moramos numa cidade bem poluída, melhor tomar muita água mesmo, 5 goles a cada frase, pra sujeira sair vaso sanitário abaixo. Tem muito cantor hidráulico por aí. Conheço até um que tem um baita desvio de septo. O otorrino disse que não sabe como ele respira, melhor operar. “Não, doutor! Vai mexer com minha ressonância!”. E lá se vão noites e noites de respiração dificultosa, inalação, spray disso, remédio d’aquilo, chá de folha de sei-lá-o-que. Falaram que faz bem, Pavarotti fazia.

Mas o fato é, minha gente, que carece esclarecer e desmistificar um fato: cantor também é músico. Pronto, falei. Por que cargas d’água ainda (ainda!) se acha que nós abrimos a boca e cantamos, por pura inspiração divina ou alguma psicografia às avessas (ou psicofonia?). É certo que cantor não estuda 8 horas por dia, como muitos amigos instrumentistas por aí; até por que, se o infeliz faz isso, a carreira não dura um mês. É duro, gente, chama-se musculatura. Mas porque diabos a gente se acaba de estudar pra entrar numa universidade – pública, lógico. Desde quando músico tem dinheiro pra bancar faculdade? – passa horas estudando técnica vocal, história da música, harmonia, contraponto (sim, até isso! Vai que te contratam pra cantar ars antiqua ou algum moteto, madrigal por aí, a gente tem que estar pronto pra tudo hoje em dia! Time is Money!), análise...Análise! lembro que no 1º ano do Bacharelado em Música com habilitação em Canto e Arte Lírica... Uau! Vou escrever de novo porque esse título soa muito bonito, fala a verdade: Bacharelado em Música com habilitação em Canto e Arte Lírica...Mas voltando à análise, lembro-me de no meu inocente 1º ano surtar por causa da maldita análise. Quase fui eu própria para a análise. E o 4º ano? Recital de formatura! Tcc! Perdi uns bons 3 quilos, por causa do maldito fim de curso. O que minha nutricionista diria? “Você está abaixo do peso, garota! Vá fazer Engenharia e arranje um emprego!”. E lá vamos nós decorar canção em polonês, russo, tcheco, fora as normais, que cantor tem mais que obrigação de saber mesmo: italiano, inglês, latim, alemão, francês. E como é que raios eu vou saber como é que se pronuncia Ma pisen zás mi laskou zni kdyz stary den umira ? Dá-lhe transcrição fonética. Dois anos do Bacharelado em Música com habilitação em Canto e Arte Lírica para aprender os tais símbolos fonéticos universais. Benditos! Não fossem eles, o que seria de nós, pobres cantores, que inventamos de cantar em tcheco? Dvorak bem podia ter escrito as Canções Ciganas em italiano, latim.

Fora isso, o que dizer das horas em frente à tela do youtube, assistindo 40 versões diferentes daquela bendita ária que você vai cantar num concerto no município da Paçoquinha do Sul, que alguém te passou sabe deus como. “Não tem cachê não, mas vai ter lanche!”. E lá vamos nós, pelo menos fome não vamos passar, e ainda tem a boa (tomara) experiência de cantar com a tal orquestra juvenil da cidade de Paçoquinha do Sul. Vamos lá, somos todos estudantes! Eu mesma já fiz muita coisa de graça, por puro amor a arte e que me deram muito prazer e orgulho. Cantei uma vez a 9ª de Beethoven numa igrejinha m Santo André que tinha umas 1.500 pessoas empilhadas quase até o teto. Foi lindo! As lágrimas rolavam.

Então, depois de 4 anos que pareceram uma eternidade, fora os outros tantos e tantos anos que você estudou antes da Universidade – afinal, universidade, não é curso elementar, minha gente, já se entra lá sabendo – em que você estressou, arrancou os cabelos, entrou em pânico pela faringite que você pegou bem na semana do teu recital, depois de muito gastar com aula particular – e vai gastar pelo resto da vida, viu? Sinto muito dizer, é um aprendizado eterno. Ninguém simplesmente ‘se forma’ – isso sem falar em fonoaudiólogo! Pelo amor, nem vou entrar nesse assunto. Cantor é cheio das crises: minha voz quebrou naquele mi 5 de 9 tempos que cantei no fim daquela ária do final do recital. No dia seguinte, lá está o infeliz sentado com um fio entrando pelo nariz e uma câmera na goela. Melhor prevenir. Por via das dúvidas, sai de casa naquele calor de 36 graus com uma echarpe enrolada no pescoço. Está um ventinho lá fora, melhor não pegar friagem. Então, depois de muito estudo, muito tempo, muito empenho, muito dinheiro gasto, vem a parte boa: vamos ganhar dinheiro com nossa arte! Mais que merecido, fala a verdade!

O bom é que as notícias circulam muito rápido: vai haver um teste para cantores para um coral sei la do que, sei la onde, sei la quanto. E lá você encontra todos os cantores da cidade, porque afinal, não tem tanto emprego assim, e quando aparece, vai todo mundo mesmo. Daí você prepara sua melhor ária, acorda as 6h da manhã, que é pra voz ‘subir’, veste roupa de audição e canta tudo. A grana era boa, mas você não passa. Tudo bem, haverá outros e lá estaremos todos novamente. Aí você passa! Olha, serão 58 ensaios, 12 apresentações e o cachê é $ 150. Daí você pensa: eu devia ter feito aquela análise no 1º ano do Bacharelado em Música com habilitação em Canto e Arte Lírica. Seria bem útil agora. Querem que você cante por $10 a hora, porque, afinal, é só abrir a boca e cantar, não precisa muita coisa. E você tem que engolir que aquele seu amigo violinista vai receber pelo mesmo trabalho, uns 2.500, com a diferença q ele vai ter menos da metade dos 58 ensaios, afinal ele é um profissional. É, quem mandou não estudar 8h por dia? O cara é músico, você é cantor. Singela diferença. Há? Velho mito de que qualquer um pode cantar, não discordo totalmente dessa ideia tão orfeônica, por assim dizer, salvas algumas considerações que aqui não cabem, mas se pretensamente se quer tirar a música erudita brasileira do amadorismo, há que se começar valorizando os profissionais da área, inclusive os incipientes. Ou vamos encher os palcos com pessoas da platéia que queiram ao invés de assistir, participar ativamente e fazer uma bela leitura a primeira vista de um Verdi qualquer. Precisa ser músico não, nem cantor. É só abrir a boca e deixar a emoção fluir. O mais triste, se é possível imaginar, é que nós cantores temos a propensão de aceitar. Nesse ponto, meus amigos instrumentistas são bem mais unidos. Deu a hora do fim do ensaio, pegam seu instrumento e vão embora. Cantor fica lá tomando bronca de regente, assistente, produtor, diretor cênico, maquiador, figurinista, faxineira, cabeleireiro e quem mais estiver presente até a hora que alguém apagar a luz e fechar as portas do teatro e dispensar o coro. E não se atrase amanhã! 90 dias depois da última récita seu cachê de $200 estará a sua disposição. O que eu não entendo é porquê. Se a própria classe não se valoriza, quem valorizará? Se nós não assumirmos nossa postura de profissionais que somos, quando sairemos desse pseudo amadorismo? Desculpe-me, mas por $10 por hora eu fico em casa apreciando o DVD da mais nova montagem de Carmem que comprei, que, aliás, me custou $150, e vou aprender bastante com isso. Porque cantor não ‘assiste’ ópera, estuda as personagens, o enredo, a orquestração e todo o resto. Paga-se em média 10 vezes isso em míseros 60 minutos de uma aula de canto com um bom professor. Aula essa para a qual você precisa se preparar bem antes, ou ela vai ser ruim e você gastará dinheiro à toa. Ainda dá pra dar aquela estudadinha no modus novus antes de dormir. Um solfejinho nunca é demais, a gente tem que ler mesmo.

Apesar de tudo, eu acredito no futuro da nossa música erudita. Os teatros estão cada vez mais cheios, cada vez mais se investe em montagens de óperas, concertos, orquestras, formação de público. Só espero estar viva para usufruir disso.

É, acho que antes do mestrado eu faço aquela análise.



Angélica Mz.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

POSSE RESPONSÁVEL DE ANIMAIS

Não é difícil nos dias atuais encontrarmos temas relacionados à questão da posse de animais. Muitas das abordagens, na verdade, estão voltadas ao simples fato de haver responsabilidade, o que na verdade, no final do raciocínio, está ligado a evitar riscos para os humanos, desde doenças a ataques. Ou seja, a abordagem acaba sendo limitada ao egoísmo do próprio homem. Notem ainda, que posse trata de propriedade, e animais perante a lei, dependendo da situação, são realmente bens semoventes.

É difícil tratar do assunto relacionado a responsabilidade fora de um caráter relacionado a leis, pois para que muitas das coisas funcionem em proteção animal, necessitamos da coerção do Estado, porém quero destacar também outros aspectos que julgo tão importantes ou mais que a mera responsabilidade.

O tratamento que se dá a um animal não é melhor ou pior proporcionalmente à classe social onde este se encontra. Há moradores de favela que cuidam bem de animais, e pessoas de classe média e alta que abandonam os animais para não pagar hotel e poder viajar, entre tantos outros motivos.

Vivemos atualmente em um sistema doentio em qualquer aspecto social que possamos pensar. Falta uma política concreta de controle, falta união da sociedade, integração de associações protetoras com governos, clínicas veterinárias, faltam voluntários sérios e capazes de conscientizar, e o problema é de todos, de toda a sociedade.

Dentro da questão de conscientização, esbarramos em muitos mitos e também em preconceitos. Pessoas não querem castrar animais machos, alguns dizem que cães devem procriar pelo menos uma vez, etc. A castração, além de manter o controle populacional de animais, evita também o desenvolvimento de algum tipo de câncer, infecções, e também comportamentos de risco dos animais como em brigas, mordeduras, atropelamentos e outros.

Para se ter uma idéia da necessidade de castração:

Para cada humano que nasce, em média, nascem 15 cães e 45 gatos. Em aproximadamente seis anos, a partir de uma cadela, teremos 64 descendentes e, a partir da gata, algo por volta de 420 mil.

Não há como esperar que se consiga doações, pessoas que querem animais, em uma proporção como essa. A longo prazo teremos animais demais expostos a atrocidades que prefiro não descrever.

Abrigos para animais não solucionam nada e acabam se tornando depósitos. Não há razão para se iludir pensando em uma saída como essa.

A adoção de um animal exige conscientização. Doar um animal não é se desfazer dele deslocando-o para outro lugar. O mais importante passo não está em somente conseguir um lar qualquer, mas fazer com que o adotante compreenda que além da responsabilidade, há um compromisso com a vida. O abandono deve ser tratado como aquilo que ele realmente é, algo desprezível, algo que diz muito sobre aquele que cometeu o ato de abandonar. Tal tipo de pessoa deve ser socialmente marginalizada.


Não deixe de considerar que animais são inteligentes, sentem dor, fome, precisam de carinho, tem sentimentos, quem convive com eles sabe disso tudo. Animais vivem o hoje, somente o presente, não tem planos, não pensam em futuro e são verdadeiros sempre. Possuem sua organização e muitas vezes não são bem compreendidos.

"O Homem tem feito na Terra um inferno para os animais." Arthur Schopenhauer

Então, temos muito o que fazer, e talvez a questão da “posse responsável” deva ser melhor desenvolvida e transformada em algo como “RESPONSABILIDADE PELA VIDA”.

Nossa incoerência não pode ser inconseqüente. Não ignore a dor de seres vivos, não importa de que ser falamos.


“A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem”. Arthur Schopenhauer

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PAIS E FILHOS




Apreciar o mundo, entender fatos atuais, intrometer-se na especulação daquilo que pode mudar e como pode acontecer o processo é um dos princípios possíveis da filosofia.

Não são poucas as “lendas” a respeito de um filho único e/ou, além disso, filho de pais separados. Pelo senso comum, este tipo de criança tem proprensão a ser um problema, sendo mais caprichosa, tímida e geralmente tirânica com o pai (mãe), com dificuldades nas relações sociais do tipo relacionamento em grupo e apresentam uma certa rebeldia.

Na verdade, traços como os descritos acima podem ser encontrados em todas as crianças, com raras exceções, então, a questão do filho único depende na verdade da casualidade, possibilidades materiais (econômicas) e afetivas daquele que mais convive com a criança.
Segundo estatísticas, 53% das mães de filhos únicos desenvolve uma característica de ser excessivamente absorvente e possesiva, o que é um grande erro que, entre outros fatores, contribui para distúrbios de diversos tipos.

De forma geral, uma criança que é capaz de desenvolver possessividade, jogo, chantagem e outras coisas mais, é uma criança inteligente, ainda que cometa erros de lógica, de comportamento, e valoração. O fato de possuir um certo intelecto diferenciado também colabora com as dificuldades em se encaixar socialmente e lidar com problemas inesperados e eventualmente isso gera ansiedade e até alguma depressão.

A falta de um irmão e/ou outras crianças em um convívio contínuo certamente traz os problemas tão falados em todos os lugares, como a dificuldade para dividir tempo, atenção e coisas, muitas vezes tendendo ao isolamento ou formando laços fortes com o pai ou a mãe, ainda que os use como jogo em suas chantagens almejando a tirania, mas na verdade, isso reflete insegurança.

Na adolescência surgem conflitos diversos e há também uma tendência a se manter o traço infantil, onde alguns são submissos e outros se rebelam querendo uma independência e liberdade que não existem e sequer lhes é de direito nessa idade.
As estatístisticas com relação a este tipo de criança não são muito alentadoras e mostram que 42 % são mais emotivos, coléricos, agressivos e instáveis que outros e sentem dificuldade para se adaptar a diversos fatores como escola e conviver em grupo.

Mas, ater-se a estatísticas seria justificar o quadro, aceitando-o como ele é sem tentar promover mudanças que poderiam ser muito boas para todos, então, não deve-se permitir que o desânimo tome lugar ou aceitar as coisas prontas. O que realmente importa é a educação.

Atualmente é cada vez mais comum encontrarmos casais com só um filho ou casais separados. Segundo o IBGE, 8 em cada dez famílias possuem hoje este perfil, então cada vez mais se torna importante não banalizar o fato, pensando que “uma criança é assim mesmo” e partir para atitudes e mudanças que possam ser realmente construtivas.

Muitos pais acreditam que é bom poder dar tudo para os filhos e mantê-los em inúmeras atividades por todo o tempo. Um ser qualquer, que cresça com tanta facilidade, pensará que o mundo gira a seu redor, e a realidade está muito distante disso, então teremos uma criança chata e frustrada, que não sabe lidar com a realidade e um adulto problemático no futuro.
Um ser criado assim será provavelmente um eterno insatisfeito, não dará valor a nada e esperará tudo sempre pronto.

Devemos ser epicuristas, pois a felicidade não está na capacidade de consumo e o consumo desenfreado ainda poderá nos levar à ruína pessoal e na verdade, também do planeta.

Tudo o que é conseguido facilmente tem pouco valor, então limites devem ser impostos para tudo.

É muito importante que crianças convivam com crianças da mesma idade, pois é onde se desenvolvem valores de grupo, compreensão de moral e ética, capacidade de trocas, comparações, etc.

Os pais parecem também ter problemas com “acontecer alguma coisa” com seus filhos. Felizmente ou infelizmente, isso independe da vontade dos pais, exceto em poucas situações, onde o bom senso se faz necessário. Excesso de proteção é algo prejudicial e pensar que ele é possível é geralmente uma ilusão. Outro fator importante que faz com que os pais errem, é o sentimento de culpa, porém este além de não ser bom para quem sente, é danoso para o próximo pela incapacidade da vontade de mudar as coisas.

Um filho é um ser humano, não mais que isso. Deve-se acompanhar seu desenvolvimento, mas pensar que ele é melhor que outros, que é especial, não é real. Cada pai (mãe) deve ser também capaz de enxergar no filho o que não é bom, o que é errado, os traços específicos de cada ser.

Pais de forma geral não conseguem lidar bem com frustrações e daí, também desenvolvem a mesma dificuldade para permitir que um filho sofra. Para uma criança, um não com carinho porém firmeza é muito melhor que a permissividade.

A chantagem da criança surge exatametne dessa permissividade e ela transforma isso aos poucos em algo como uma lei. Quando dá certo, quando os pais permitem algo facilmente, a chantagem se registra e se mantém como instrumento de barganha, e isso é uma armadilha que transforma o pai ou mãe em reféns de uma situação.

Aceitar a chantagem pode ser mais fácil que suportar as conseqüências, como birra ou mau humor e isso também ameniza a culpa, porém as chantagens não param nunca, pois não é possível fazer tal tipo de criança um ser satisfeito. No futuro isso terá uma reverberação e consequências sérias para viver socialmente.

Quando o problema já está instalado, não é fácil modificar, porém é possível. Os limites devem ser claros e o pai / mãe devem tentar descobrir onde sentem mais dificuldade de dizer não. Necessáriamente a criança deve notar que as mudanças são sérias e que sem mudanças de comportamento além de nada ganhar será afetada e “prejudicada”. A possibilidade de barganha deve ser eliminada e a autoridade reestabelecida. Certamente em um primeiro momento haverá briga, porém deve se manter uma postura firme.

Ainda que o artigo não seja „profissional”, ainda que fosse não poderia e nem deveria ser apreciado literalmente. O grande valor das idéias expostas é a reflexão. Para uma orientação específica, e toda a orientação relativa a situações como as acima descritas deve ser específica, aconselho apenas, de coração, não aceitar as coisas como estão, especialmente no caso de não estarem boas. Então, reflita, lute, tente mudanças. A superação de muitos quadros que vivemos seria na verdade benéfica para todos, individualmente e socialmente.

Tadziu

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PERDÃO - PARTE II



Perdão

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O perdão é um processo mental ou espiritual de cessar o sentimento de ressentimento ou raiva contra outra pessoa, decorrente de uma ofensa percebida, diferença ou erro, ou cessar a exigência de castigo ou restituição.
O perdão pode ser considerado simplesmente em termos dos sentimentos da pessoa que perdoa, ou em termos do relacionamento entre o que perdoa e a pessoa perdoada. É normalmente concedido sem qualquer expectativa de compensação, e pode ocorrer sem que o perdoado tome conhecimento (por exemplo, uma pessoa pode perdoar outra pessoa que está morta ou que não se vê a muito tempo). Em outros casos, o perdão pode vir através da oferta de alguma forma de desculpa ou restituição, ou mesmo um justo pedido de perdão, dirigido ao ofendido, por acreditar que ele é capaz de perdoar.
O perdão é o esquecimento completo e absoluto das ofensas, vem do coração é sincero, generoso e não fere o amor próprio do ofensor. Não impõe condições humilhantes tampouco é motivado por orgulho ou ostentação. O verdadeiro perdão se reconhece pelos atos e não pelas palavras.
Existem religiões que incluem disciplinas sobre a natureza do perdão, e muitas destas disciplinas fornecem uma base subjacente para as várias teorias modernas e práticas de perdão.
Exemplo de ensino do perdão está na "parábola do Filho Pródigo" (Lucas 15:11–32).
Normalmente as doutrinas de cunho religioso trabalham o perdão sob duas óticas diferentes, que são:
• Uma ênfase maior na necessidade das faltas dos seres humanos serem perdoadas por Deus;
• Uma ênfase maior na necessidade dos seres humanos praticarem o perdão entre si, como pré-requisito para o aprimoramento espiritual.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Perd%C3%A3o



Recentemente com uma amiga, retomamos um assunto já postado aqui anteriormente, onde eu questionava a real possibilidade de perdoar, como sendo uma verdade plena.

O artigo anterior:

http://aideofobia.blogspot.com/2009/01/perdoar-per-donare-doao-de-si.html

A Thatiana mantém o valor do perdão muito agregado a valores religiosos, e quem sabe, aquele que realmente em fé, “consiga” perdoar, pois este perdão se dá em Deus. Por ser cético e compreender o espírito humano de outra maneira, não vejo tal perdão acontecendo (dependendo do ato a ser perdoado), seja em Deus ou na alma do indivíduo.

Este artigo comenta um texto chamado “O poder do perdão” de Ágata Székely, publicado na Revista Seleções. A íntegra pode ser lida pelo link:

http://www.selecoes.com.br/revista/5621/O-poder-do-perdao.html

A autora menciona Elton John e diz que além de ser difícil perdoar, perdão é uma palavra mal-entendida.

A valoração que ela dá ao perdão em um primeiro momento, trata somente de eventuais superficialidades, nada de realmente importante e coloca o perdão como necessário para não se sentir o rancor, que é algo que nos incomoda no presente.

A grande questão é: podemos sublimar a lembrança, podemos desconsiderar a pessoa e nos afastar dos sentimentos ruins que determinado ato nos causou, sem que seja necessário perdoar. Perdoar não é o único instrumento que nos permite um alívio da alma, ainda que seja um deles.

Fred Luskin, psicólogo da Universidade de Standford afirma que os problemas devem ser solucionados. Concordo plenamente, até pelo fato de um problema sem solução não ser um problema. Ele diz ainda que o perdão é para nós mesmos e não para quem nos ofendeu. Certo, mas isso encerra a questão do perdão vista por uma ótima religiosa, e transforma o perdão em uma outra coisa, do tipo sublimar, não lembrar, não permite reconciliação, o que não está fora dos conceitos que apresentei para perdão, ou se recoloca semanticamente em uma nova interpretação.

Segundo Luskin:

“[...] o perdão serve para relaxarmos e não significa que o agressor “se dê bem”, nem que aceitamos algo injusto. Ao contrário, significa não sofrer eternamente pela ofensa ou pela agressão.”

Perfeito, realmente não faz sentido manter sentimentos que nos tragam angústia, então, assim como tantas outras coisas que precisamos “esquecer”, este tipo de perdão pode e deve ser instaurado em nós sempre que necessário.

O exemplo citado pela autora relacionado ao Capitão John Plummer não é um bom exemplo para perdão. É uma situação específica, onde alguém recebe ordens, e em uma guerra tais atos são comuns. Não haveria hoje convivência pacífica na Europa se um tipo de perdão deste gênero fosse realmente necessário. Tentei tratar o perdão em relações mais próximas e pessoais. Situações limite como uma guerra, trazem a possibilidade de “distribuição de culpas”, entre o momento histórico, o governo de cada um dos países, etc. Não há quem culpar diretamente, então também não há a quem perdoar.


Boris Cyrulnik, também citado, viveu uma situação extrema de campos de concentração nazistas. Ele traz como “solução” para a questão, nas palavras dele:

“Dá trabalho, não é fácil, mas é um espaço de liberdade interior que permite não se submeter às feridas.”

Ainda assim, não se trata de perdão, e sim de sublimação e de busca da liberdade interior, liberdade do espírito, abandonar angústias.

Na verdade, não se deve manter um papel de vítima e as dores emocionais devem ser superadas, e não importa se isso é feito pelo perdão ou pela sublimação, sendo que a sublimação é mais real.

Segundo a psicoterapeuta Rosa Argentina Rivas Lacayo, presidente da Associação Latino-americana de Desenvolvimento Humano e da Associação de Orientação Holística do México, “sem perdão não podemos crescer nem ficar mais fortes com a adversidade. Também não conseguiremos ser flexíveis e resilientes. Algumas pessoas ‘cozinham’ a dor em fogo brando para mostrar ao mundo como foram maltratadas, e não querem perceber que assim se prejudicam. Ao mundo, não interessa o nosso passado, só o que somos capazes de fazer e dar agora. Quando nos apegamos à dor antiga, a autocomiseração embota a capacidade de dar e, quando assumimos o papel de mártires, ficamos à espera de que alguém resolva milagrosamente a nossa vida.”

Perfeito, existe sim a vitimização e muitas vezes se fazer de vítima é chamar atenção para uma carência e eventualmente, uma motivação para uma vingança qualquer. De forma geral, não é um sentimento bom, ainda que em situações específicas, necessário.

Rivas Lacayo diz: “[..] o perdão nos ajuda a reconhecer e admitir que somos frágeis e que não precisamos esconder essa fragilidade. Quando nos tornamos conscientes dos nossos limites, evitamos que a experiência se repita”.

Na verdade, o fato de termos nos sentido emocionalmente abalados é o que nos mostra nossa fragilidade, pois sem esta, não teríamos sofrido e não teríamos o que perdoar. Devemos sim ter consciência de nossos limites, não somente para evitar que determinada experiência se repita, mas para que possamos evitar que venha a acontecer.

Nascemos livres e somos livres sempre, fazemos escolhas, opções, e até mesmo não fazer uma escolha é uma escolha. Em muitas situações, somos responsáveis inclusive pelo que fazem conosco, pois “permitimos” que algo seja feito e não é raro “não nos perdoarmos” por isso, mas geralmente o sentimento surge à posteriori.

Não é possível negar, que todo e qualquer sentimento ruim deva ser afastado, e que as angústias que carregamos nos fazem mal. Sabemos também, que muitas das angústias emocionais acabam por atingir a nossa saúde física. Todavia, limitar nossa capacidade de nos livrarmos de sentimentos ruins pelo perdão, é no mínimo pouco sensato. É como dizer: se você não consegue perdoar, manterá determinada angústia. Não é bem verdade, podemos desenvolver outros instrumentos que sejam tão eficazes quanto o perdão.

Aparentemente, o artigo traz uma nova semântica para a palavra perdão, porém fazendo isso, além de colidir com a interpretação de perdão pelo senso comum, que pertence a um grande número de pessoas, elimina outras saídas viáveis para a busca de um alívio emocional.

Não podemos nos esquecer, que para muitas pessoas, uma vingança quando possível, também traz o alívio necessário. Não estou aqui fazendo uma apologia a respeito da vingança, mas mostrando que entre outros, há situações onde este instrumento também é válido e outra parte merece.

Há uma questão social muito forte, com grande influência religiosa, que torna a vingança algo excessivamente reprovável, torna o homem um cordeiro, um fraco, e esquece que entre tantos instrumentos que a natureza nos deu para sobreviver e continuar a espécie, está a defesa.

De qualquer maneira, a busca deve estar centrada no amor, na ética, na verdade e na justiça, ainda que eventualmente se faça necessário o uso da força.

Dedicado a minha querida amiga Thatiana, que faz com que eu pense em como dar “valorações” a certos elementos espirituais humanos.

Tadziu