segunda-feira, 6 de abril de 2009

ANIMAIS E ANIMAIS




Estranho período da humanidade, século XXI. Muitos de nós talvez nos século passado tivessem imaginado um mundo melhor, diferente, tolerante, igualitário, mas ainda estamos muito distantes disso e vivemos talvez o pior egocentrismo de todos os tempos, um apogeu do egoísmo e falta de solidariedade.

São várias as perspectivas de apreciação da maldade e do egoísmo do homem, porém não devemos nos esquecer que o mesmo homem que é capaz de atrocidades terríveis, é também capaz de atos de piedade e extrema compaixão, então existe a possibilidade de sermos norteados por ideais melhores.

Segundo Schopenhauer, as ações humanas contém além da maldade e do egoísmo a piedade. Pessoalmente não gosto de piedade, acho um valor “fraco” e muitas vezes hipócrita, porém realmente existe e se manifesta em diferentes situações, chegando até mesmo a ser algo bom e válido dependendo da situação. Para ele, se o mundo é dor, ele pode ser melhor tolerado e suportado com a piedade.

O “bom” em Schopenhauer é o fato dele não considerar ou não lidar bem com as convenções sociais, apesar de se queimar com as mulheres graças a aforismos absurdos, ainda assim ele tem valores inquestionáveis sobre o amor e a vida, onde o amor é um impulso para a vida.

Mas a idéia aqui é tratar também de animais, o que nos inclui. Schopenhauer foi um “recluso” e vivia na companhia de seu cão Atma (alma do mundo), e quando seu cão agira de forma má, ou a descontento, ele sarcasticamente o chamava de bípede, fazendo uma alusão sarcástica ao ser humano.

Schopenhauer tinha seus motivos para não gostar do humano, não era algo gratuito. Em seu contexto ele levava em conta o tipo de organização e importância que o humano dava com relação às condições materiais e espirituais (de sua época), o que parece válido ainda hoje. O homem na época de Schopenhauer não desempenhava um papel que pudesse engendrar uma vida melhor com relações mais amistosas (como hoje).

Lembro que a valorização dos animais também aparece em Nietzsche, Motaigne e alguns outros além de Schopenhauer, que dizia que entre os cães, diferentemente do que ocorre entre os homens, a vontade não é dissimulada pela máscara do pensamento.

Com relação aos animais, ele ainda dizia: “A suposta ausência de direito dos animais, o preconceito de que o nosso procedimento para com eles não tem importância moral, que não existem, como se diz, deveres para com os animais, é justamente uma ignorância revoltante, uma barbaridade do ocidente”.

E ainda: “A piedade com os animais está tão intimamente ligada com a bondade de caráter, que se pode afirmar que quem é cruel com os animais não pode ser bom”.

Então, pensemos em valorizar todo o tipo de vida, e talvez especialmente a dos animais, pois estes saíram do estado de natureza por nossa obra e necessidade, então agora são nossa responsabilidade.

Montaigne comenta sobre os tipos de raciocínio dos homens e dos animais, chegando a insinuar que possuem eventualmente faculdades superiores às nossas. Sobre a comunicação entre nós e os animais ele diz:

"Essa falha que impede nossa comunicação recíproca tanto pode ser atribuída a nós como a eles, que consideramos inferiores. Está ainda por se estabelecer a quem cabe a culpa por não nos entendermos, pois se não penetramos os pensamentos dos animais eles tampouco penetram os nossos e podem assim nos achar tão irracionais quanto nós os achamos".


Nietzsche em “Humano, Demasiado Humano” faz uma crítica direta relacionada à condição do animal: “A fera que há em nós precisa que se lhe minta; a moral é mentira forçada, para que não sejamos dilacerados por ela. Sem os erros, que se encontram nas suposições da moral, o homem teria permanecido animal. Assim, porém, tomou-se por algo de mais elevado e impôs-se leis mais severas. Tem, por isso, um ódio contra os estádios que permaneceram mais próximos da animalidade: donde se há-de explicar o antigo desprezo pelo escravo, como por um não-homem, como por uma coisa.”

E com observações um tanto sarcásticas nos dá a seguinte pérola:

“O macaco é um animal demasiado simpático para que o homem descenda dele”.

Enfim, nas relações entre humanos e humanos e animais, tudo depende de nós. Encontrar caminhos para superar a mesquinhez, o egoísmo, ter solidariedade com todas as coisas vivas, e eliminar tantos “ismos” negativos pendentes só depende de nós.

Amar os animais e respeitar a vida faz parte de nosso processo de evolução e superação, e não estamos indo muito bem nesta emancipação que nos é tão necessária até mesmo para a nossa própria sobrevivência.

Tadziu

Um comentário:

Marli Ramires disse...

Tô curtindo ler os seus textos e comentá-los!

Então, em relação ao que vc disse sobre a piedade, penso o seguinte: - É preferível a compaixão à piedade. Mas ainda é preferível a piedade à indiferença!

A compaixão é o "sofrer com". Quando vc sofre com, vc parte para a ação, pois não gosta de sofrer, claro. E busca fazer do que está sofrendo, alguém igual à você. Gera o sentimento de querer que o outro seja também. Algumas vezes tive oportunidade de sentir compaixão. E ela chega a ser desesperadora. O que fazer para que tal pessoa consiga elevar-se? Oh... não que eu seja algo ou alguém de posses ou importante... simplesmente pq o outro era tão menos! E fazer com que a pessoa cresça assim, não é tarefa fácil, pois vai além do DAR uma esmola, ou algo. É preciso alicerces... e tempo!

Será que podemos sentir compaixão pelos animais?
Acho que sim. À medida em que desejamos que ele tenha um lar, alimentação e um cobertor quente, queremos que ele esteja protegido como estamos.

Na luta pela dignidade animal, sentimos que o muito que fazemos ainda é pouco. Seria necessário que os seres humanos todos racionalizassem a questão animal e decidisse que eles também tem direitos.... mas o que fazer, se nem todos acreditam que nem mesmo os seus pares tem direitos?