segunda-feira, 14 de julho de 2008

MÉTODO - FILOSOFIA E NIETZSCHE


Nietzsche tinha especial preocupação com o conhecimento histórico e realizou críticas contra a historiografia preponderante na Alemanha de sua época. Desde a obra “Humano demasiado humano” de 1878, sustentou a importância de pensar a problemática moral historicamente.
Então, compreender o significado da história, e a falta de “historicização” da filosofia, dificulta o compreender a história e a própria filosofia.
O fundamental no método genealógico, é considerar tudo, desde as instituições, os hábitos, a política, a religião e a arte, as elaborações intelectuais, como algo a ser compreendido de forma diacrônica, ou seja, estudar os termos coexistentes e suas relações, especialmente nos termos sucessivos que com o tempo vão sendo substituídos e se transformando.
Para Nietzsche, as formas e usos das coisas sofrem transformação de sentido e impedente tentativas totalizantes de definição (Genealogia da Moral, II, 12, p.66).
Nietzsche afirma na Genealogia: “definível é apenas aquilo que não tem história” (Genealogia da Moral, II, 13, p. 68)
As pessoas retomam significados em diferentes períodos históricos, com necessidades e finalidades diferentes das originais que tornam-se ocultas, e passam a adaptar-se às necessidades das forças e poderes atuantes no momento.

Desta maneira, Nietzsche aborda aspectos de suma importância, como:

a negação de uma ontologia que busque a necessidade do absoluto e a afirmação do devir estar em tudo.
dando um sentido à linguagem como possuidora de uma origem e que esta historicamente atende a configurações específicas do poder.

Levar e conta e desconfiar da linguagem, uma vez que como referência para o conhecimento seguro das coisas, ela não é segura.

Pensar história para Nietzsche é considerar manter o rigor histórico em sua realização.
Genealogia da Moral de 1887 é um marco que concretiza o “método” genealógico da filosofia de Nietzsche.
Em o Humano demasiado humano de 1878 ainda não aparece o uso da “genealogia”, e ele trata de forma mais clara a “filosofia histórica”, Nietzsche desenvolve a realização de um projeto e de uma “filosofia histórica”. O olhar histórico vai sendo incorporado gradativamente e o método genealógico, a partir de suas reflexões acaba por florescer em 1877.
Nietzsche, em Humano demasiado humano de 1878 pela primeira vez posiciona suas investigações filosóficas com bases firmes em história, quando surge a necessidade do “sentido histórico” para a realização de investigações filosóficas.
Ele critica os métodos filosóficos investigativos sem fundamentação em história em momentos onde denomina sua crítica contra a “filosofia metafísica”, evidenciado especialmente em seus aforismos 1, 2, 11 e 16 da obra Humano demasiado humano.
Escrevendo contra a “filosofia metafísica” no aforismo 1, ele afirma que se faz necessário um novo “método filosófico”, que ele denomina de “filosofia histórica” e finalmente no aforismo 11, ele questiona a linguagem como referência segura para adquirir conhecimento.
Para Nietzsche, toda a metafísica comete um grande erro desconsiderando o valor do vir a ser. Despreza o “mundo conhecido por nós”, o “mundo dos fenômenos” para os metafísicos, o que para nós se chama vida e experiência.
É como se não houvesse interesse no valor de importância do devir para o conhecimento do homem e do mundo. É como tratar a metafísica como ligada à necessidade de penar a verdade como sendo exata e absoluta, na busca de verdades eternas, desconsiderando totalmente o valor do devir, que é intrínseco para o conhecimento.
Voltando à origem, ao passado histórico da metafísica, a filosofia histórica mostra que a metafísica está dentro da história, dentro do campo histórico de representações, que inclui atribuir significados e atribuições humanas às coisas e ao mundo, criando palavras, conceitos e nomeando as coisas.
O mundo é como é, por herdarmos uma configuração pronta das coisas, uma forma de ver que vem de outras representações tecidas pelo pensamento passado.
Entre os motivos para cada uma das configurações em diferentes momentos da história estão: exigências morais, estéticas e religiosas, cega inclinação (senso comum), paixão ou medo, o intelecto dos homens, os maus hábitos e o pensamento ilógico.

Estes são para Nietzsche os motivos para a introdução nas “coisas” em nossa concepção fundamental, sendo para ele a metafísica uma expressão da atividade pictórica do homem, e este sendo aquele que fez aparecer as concepções metafísicas (o fenômeno”, a “coisa em si”.
Assim, os metafísicos ao invés de caminhar para descobrir novos significados verdadeiros eternos, estariam se afastando da percepção de verdade do homem e do mundo gerando novas representações.
Segundo Nietzsche, o “passado grandioso” é terrível e profundo de significado e cheio de alma, colorido pelos homens, o que nos mantém em um campo limitado e delimitado, envolvendo nossos atos no presente e nos mantendo aprisionados.
Um método filosófico deve considerar muitos elementos para que possa ser construído sem dogmas. O passado importa, o futuro importa, mas a busca da verdade e do conhecimento também devem ser feitas levando-se em conta nossas próprias limitações, que devem sempre ser superadas, assim conseguindo criar novas relações com as coisas e com o mundo, compreendendo melhor toda e qualquer relação.
O verdadeiro filósofo e o “verdadeiro filosofar” deve contrapor perspectivas, deve utilizar-se de diversos meios, e não deve criar dogmas. A visão deve ser ampla, abrangente e olha para todos os lados, por dentro e por fora, e considerar toda e qualquer possível perspectiva.
O perspectivismo exige termos os prós e contras sob nosso controle e utilizar a diversidade. O método de Nietzsche não é apenas perspectivista, é também experimentalista, mas tratar de um problema não pode ser nunca algo pronto, completo, finalizado, deve ser provisório e permitir espaço para novas interpretações.
Um dos grandes valores do método, é a estratégia onde o argumento não é provar de forma racional e lógica que o que diz é a verdade, mas alertar e mostrar que aquilo em que nossas crenças tem base pode não ser confiável. Algo óbvio deve nos trazer a suspeita para a revisão de nossas crenças, por mais simples que sejam, pois o intelecto produz erros.
Paradoxalmente, Nietzsche nos mostra que muitas vezes, não é a vontade de conhecer que “incomoda”, mas o não conhecer que torna-se a questão válida.
Revelar realmente um “método”, que eu possa considerar como sendo o mais importante, seria limitar a capacidade na busca da verdade. Pessoalmente, elimino a maior parte da metafísica como ciência destinada à busca da verdade, porém vejo em diversos métodos, validade na busca de respostas para a problematização do mundo e da própria filosofia.
O problema do método filosófico compreende diversas investigações históricas e sistemáticas e devemos pensar nelas desde Platão até os dias atuais. Encontraremos diferentes abordagens e sistemas, onde o importante sempre será e estará nos efeitos e alcanças que determinado método nos dará com relação a determinado problema. Apesar da tendência de “autonomia” entre os métodos, na verdade existe e deve existir uma mescla entre os mesmos, possibilitando extrair-se o que há de melhor e mais necessário em cada um deles na busca de conhecimento.
Seja por uma perspectiva dialética, transcedental, hermanêutica, analítica ou outra qualquer, a reflexão deve ser ampla, plural e perseguir o objeto do pensar, onde o conhecimento deve buscar conhecer a si mesmo de forma plena, sem que exijam idéias fixas, dogmatização e outros elementos que tragam bloqueios ao desenvolvimento do pensar.

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