domingo, 24 de maio de 2009

CONHECER A SI E AOS OUTROS




Tenho por hábito tentar explorar e compreender o que penso, sinto e faço. Mesmo antes de Sócrates, nascido em 470 a.C. ter me sido apresentado tendo como uma de suas máximas o “conhece te a si mesmo”, eu já tentava trilhar por estes caminhos tortuosos encontrando muitas vezes respostas não exatamente agradáveis, ou do tipo que eu gostaria de ter.

O importante também e pensar no “conheça o próximo”, pois isso evita surpresas desagradáveis e ajuda a imaginar como podemos agir e como realmente o outro é em ética e valores como egoísmo entre tantos outros.

O aspecto mais difícil em tais buscas é a compreensão do inconsciente, pois estamos sempre arriscados a errar na interpretação, seja do próprio ou do outro. Como já nos dizia Nietzsche: ““Todos os julgamentos instintivos são míopes em relação à cadeia das conseqüências: aconselham o que convém ser feito em primeiro lugar”.
Porém resta nos a experiência vivida e apreciada a posteriori, seja esta a própria o a que podemos apreciar no próximo. Lembro ainda, que tentar avaliar e compreender o inconsciente não deve estar somente nas questões mais comumente compreendidas pelo senso comum, como neuroses, psicopatias diversas e outros, mas especialmente naquilo que observamos que nos mostra quem somos e quem os outros são.

Não há aqui questões místicas. Quem me conhece um pouco sabe que sou cético, ainda que não a um ponto onde o ceticismo limite o conhecimento, porém desconfiado como possibilidade de sempre aprender mais. As vivências sociais, especialmente as que trazem em si valores emocionais, são de especial valor para se poder medir coisas, como valores de felicidade e satisfação.

Existe também no senso comum, dizeres do tipo: “só o tempo mostra como as coisas são” e também “o tempo resolve coisas”, entre tantas outras referências citando o valor do tempo.
Inegavelmente estamos submetidos ao tempo, e existimos no tempo e no espaço, ambas as coisas estão diretamente relacionadas.

Aquele que nos dá grande satisfação e prazer pode ser o mesmo que nos trará um grande inferno pessoal. A relação é direta, pois é mais fácil compreender o que é doce conhecendo o fel e vice versa. Um certo equilíbrio mental vem de nossa capacidade de não alimentar ou exacerbar qualidades e defeitos nas pessoas, e também de não alimentar expectativas. É um caminho válido para evitar mágoas e frustrações, pois muitas vezes, geramos ansiedade graças a expectativas, mesmo quando imaginamos que há algo errado e que a expectativa boa não se realizará. Então, aprender a lidar com o tempo passa a ter uma importância vital.
Somos seres sociais, comunais, não podemos viver isolados e a realidade não está em uma possibilidade de exclusão do convívio com outras pessoas.

Mas, aí surgem os riscos e a questão mais importante: como podemos realmente conhecer uma outra pessoa? Como saber qual é a essência de alguém? Imaginemos então uma pessoa hedonista, narcisista e egoísta. Caso realmente seja possível identificar tal tipo de pessoa, que tipo de valor ou apreciação é possível construir a respeito dela? No mínimo, saberemos que não é possível que esta pessoa esteja feliz ou satisfeita.

Apesar disso, mesmo tendo tal tipo de conhecimento, bizarramente ás vezes nos sentimos incomodados, como que tendo sido enganados (apesar de ter sido um erro nosso), e o julgamento de infelicidade própria torna se errôneo, pois no geral e na verdade, isso não mais importa.

Alguns dos aspectos de nosso sofrimento muitas vezes está apenas relacionado a algum tipo de injustiça ou ingratidão, mas não estamos em locais ou posições onde podemos realmente fazer com que isso mude, e os fatos continuam iguais, os mesmos, como sempre foram ainda que não tenhamos notado antes, e continuamos em uma expectativa irreal de poder mudar algo que acaba sendo apenas uma expectativa em algo que é totalmente externo a nós.

É uma de nossas impotências e devemos aprender a lidar com elas. Podemos tentar conseguir alguma paz cuidando de nossos próprios valores e dividindo o que tempos de conteúdo bom, pois de outra maneira perdemos o norteamento daquilo que realmente somos.

Apesar de estarmos hoje muito distantes daquilo que possamos chamar de natureza (original), não perdemos quase nada relacionado aos instintos de sobrevivência e auto preservação, e lidaremos com isso pelo resto da vida.
Daí, temos as pessoas próximas, amigos, gente de confiança com quem podemos realizar trocas de valores, de visão de mundo, de sentido para as coisas e de superação das frustrações.

É curioso quando podemos avaliar as transformações de uma pessoa à distância, especialmente se esta está realmente distante de nós por ter causado mágoa, decepção, por ter sido falsa, vendido uma imagem de algo que nunca foi, etc. É um dos melhores e mais frutíferos campos para a auto avaliação de nossas capacidades cognitivas emocionais e um exercício no mínimo interessante para confirmar que nos enganamos, que a realidade muitas vezes é semelhante às sombras vistas pelos presos na caverna de Platão (leia o Mito da Caverna de Platão).

Temos também uma tendência não muito produtiva de nos atermos ao diagnóstico de si mesmos e do outro. Um diagnóstico de pouco serve, não é suficientemente ontológico para gerar mudanças significativas e às vezes se torna um tipo de perversão.

O melhor que podemos e devemos fazer é escolher um grupo saudável de amigos para dividir amizade e afetividade, o que é difícil nos dias atuais graças ao excessivo egocentrismo social. A grande busca de paz deve estar centrada em:

- lidar bem com o “não”, tanto em dizer como em ouvir;
- não viver relações fracassadas, não estender o desprazer;
- evitar a convivência e qualquer tipo de contato com aquele que nos causa algum tipo de incômodo profundo;
- aprender a mandar pessoas para a pqp, mandar tomar no c... ou ir se f... também faz parte de sentir-se melhor e demonstrar que já compreendeu a essência de tal pessoa ou da coisa toda em si.

Não podemos nos lamentar pelo fato de determinada pessoa não ter conseguido com a experiência e a vivência se transformar em algo melhor. Não podemos sentir culpa por não ter notado traços importantes de personalidade e caráter, pois não é possível criar uma nova ordem mental em outra pessoa, a menos que esta já tenha uma predisposição ou queira.
Não estou insinuando que não devemos lutar ou tentar transformar pessoas e coisas, mas há um limite e devemos lutar por nós a partir de certo ponto, ainda que isso seja algo deveras pragmático. A fome exagerada pela compreensão excede nossa necessidade real e a fantasia não consumada nos trás sofrimento pelo passado que já não importa mais. Devemos buscar plenitude, não menos que isso, mas com a consciência de seus limites, pois a busca será eterna.

A verdade é que há um drama em nossa criação que nos faz muitas vezes perder as esperanças graças a uma experiência péssima o que gera uma ansiedade graças a nossa incapacidade de avaliar sempre corretamente os fatos. Usamos o medo para enterrar este nosso legado.

Precisamos estar aptos para amar e isso só pode acontecer se dominarmos o medo do sofrimento, e geralmente, já temos vivências dolorosas para saber que a dor é superável e que a manipulação é cretina.
O que pode nos nortear na verdade em relações humanas talvez seja a gratidão e a troca, não uma troca comercial e não uma gratidão obrigatória, mas tudo dentro de um conceito de gratuidade.

Nossa capacidade de qualificar e classificar o tipo de impacto que temos no outro é também fundamental na preservação das relações saudáveis. Pense em sedução, que é uma prova máxima de desejo de conseguir algo ou de estar com alguém, que é tantas vezes usada como poder, exploração, extorsão do melhor que o outro pode ter. Então, temos um problema a tratar e pensar com relação a doação verdadeira, pois buscar segurança e poder não é nobre e sequer ético, e provoca apenas mais exploração.

Mas as pessoas mudam, podem mudar. Travar a capacidade de emancipação do ser humano em um senso comum de “as pessoas não mudam” não é algo bom, mas elas podem e muitas vezes devem mudar longe de nós, ou, viver como são, com pessoas semelhantes, ainda que passem a viver de mentiras.

Realidade, a soma de todas as obrigações e como diria Sartre, também de nossas angústias, que para ele é a nossa consciência da liberdade, o que dificulta o prazer. Fugir da realidade é admitir a frustração e estar inserido em uma situação, mesmo contra a própria vontade.
Compreender um processo é um grande fator libertador. Para nos libertarmos de pessoas e coisas que nos amarguram, devemos provar a nós mesmos que os eventos ou pessoas realmente nos incomodam, ou o problema se torna interno nosso. Ter um espaço para sonhar é apenas uma forma saudável de garantia de superação, então assim mantemos a força e também a esperança em pessoas melhores, coisas melhores, melhores amores, etc.
Toda e qualquer aquisição e desejo traz consigo aspectos negativos, mas a essência de uma vida plena está no equilíbrio da realidade, da verdade e do sonho que trazemos em nós, o que nos permite errar.
Somente satisfações superficiais ou passageiras nos trarão sofrimentos futuros, e nada mais.
Não devemos nos desviar de fatos certos como as prioridades em amizade, troca afetiva, solidariedade, pois sem isso entraremos em uma vida triste e de tédio. Sendo boa ou não, não devemos remoer sobre se merecemos ou não certa coisa, esteja ela no passado ou futuro, pois isso alimenta culpa. Devemos lutar contra o conformismo e a desistência, e devemos desistir totalmente de nosso passado, realmente eliminando pessoas de nosso mundo.

Há situações onde não conseguimos facilmente nos livrar de enredos de mágoa, ódio, e imaginamos formas mesquinhas para uma possível vingança, o que reforça comportamentos neuróticos. Isso é tudo besteira.

Devemos aceitas nossas críticas e as críticas feitas por amigos de confiança, devemos reagir e agir de forma positiva, ainda que seja difícil, e superar coisas e pessoas da mesma forma que se supera um vício.

A melhor solução ainda é o aprofundamento de nossa consciência sobre nós mesmos e sobre as coisas próximas, mesmo que não seja possível a sua compreensão total e as atitudes possíveis.

Então? Vamos nos livrar totalmente de tudo e todos que nada valem ignorando a existência e vivendo uma realidade melhor?

Vamos mandar parte do mundo para a pqp e viver com a parte melhor dele?

Tadziu

3 comentários:

marisa disse...

Tô precisando mandar uma galera pra PQP...

mas, sem brincadeira...acredito que dificilmente conhecemos alguém muito à fundo...
só vemos a parte "rasa" de alguém...até dividirmos o 1° kg de sal juntos, como diria minha Nonna

beijo e parabéns pelos lindos textos, Tadziu

Flávia D'Álima disse...

Eu já andei me livrando de umas pedras que ficavam nos meus sapatos e garanto é bom a beça

Unknown disse...

Conhecer a si mesmo. É difícil, muito difícil.
Queremos sempre passar a imagem do certo, do belo, de melhor e aí surge uma falha. Independente de onde essa falha cause resultado, no relaciomento amoroso, no social, ou trabalho, dificilmente admitiremos o erro, ou parte dele e, possivelmente, iremos atribuir o resultado desse deslize a outro (foi ele(a) quem fez; foi ele(a) quem começou etc). Então resolvemos tirar o(a) grande encrenqueiro(a) da nossa vida. "Ufa! Livre! Os problemas acabaram!" Mas o tempo passa e percebemos que há algo de errado. Tem algo que ainda incomoda. Aí começam as dúvidas: será que to sentindo falta da pessoa?; será que preciso dele(a) pra que meu trabalho funcione bem ou minha vida se torne feliz? Talvez. Mas é provável que falte nossa percepção e admissão na participação da "merda".
Ninguém quer assinar o próprio atestado de "burrice", mas pode ser que olhando pra trás é isso que vamos enxergar: alguém que nos conhecia mais do que nós mesmos, usou nossa informação e nos ludibriou usando nossa própria falha. Foi isso que Maquiavel disse em O Príncipe: "Se não podes contra os teus inimigos aproxima-te deles, faze aliança com eles, conquista sua confiança, infiltra-te em suas bases e depois destrua-o." Porém nos vemos sempre como o atacante e nunca como o inimigo ou atacado. E isso acontece o tempo todo.
Ao admitirmos nosso erro, vamos perceber a falha, e isso significa conhecer a nós mesmos. Assim, subiremos o muro da nossa defesa e poderemos mandar à PQP o(a) FDP antes dele(a) invadir nossa guarda e machuque nossa moral e nossa essência.