domingo, 18 de janeiro de 2009

EXISTENCIALISMO, PSICOLOGIA, CULPA



“Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.” Nietzsche

Afetividade deve ser compreendida aqui da seguinte maneira: como as coisas nos afetam (exceto onde menciono outra maneira).

“Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.” Friedrich Nietzsche

O artigo aborda desde paixões a situações que nos proporcionaram algum tipo de resposta emocional, seja paixão, amor, medo, e considerando-se o mundo a nosso redor, pessoas, situações, momentos. Devemos também considerar que o ponto de vista principal na exposição das idéias é o existencialista que valoriza e destaca a responsabilidade, a liberdade individual e a subjetividade de cada um. Cada um de nós é o mestre daquilo que faz e do seu destino.

Há muito conteúdo embasado em psicologia e filosofia, porém também conceitos próprios meus. A intenção não é demonstrar certezas, mas despertar o julgamento de todo aquele que tiver acesso ao texto.

Levando-se em conta o existencialismo, não podemos culpar os outros por nossos fracassos pessoais, então temos responsabilidade pelo que houve e devemos admitir que o cenário foi desenhado por nós (sempre).

A culpa nos afeta de formas interessantes. É um sentimento de reprovação de nós mesmos, é uma frustração da não realização de um efeito que tentamos causar da forma “certa”. É um sentimento de ser indigno, mau, ruim, carregado de remorso e censura. Algumas vezes é nosso, e até somos culpados, porém às vezes captamos culpas que não nos dizem respeito, pois de forma existencialista, da mesma forma que somos responsáveis por nossos atos, os outros também são.

É óbvio que não temos domínio de muitas situações, e que nem tudo está em nossas mãos, porém não perceber isso é um erro e um problema nosso. Não aceitar nossos limites também está na mesma situação de maturidade e compreensão do real.

O fracasso, qualquer que seja, acaba sendo também um elemento afetivo e nos derruba emocionalmente. Pode ser uma questão profissional, um projeto importante, casamento, namoro, uma paixão que prometia crescer, uma amizade que tomou um rumo diferente, qualquer coisa que seja pessoalmente relevante e importante.

Devemos observar, que em muitas das situações mencionadas acima, ou em outras tantas possíveis, não são sempre prioridades reais, e às vezes representamos papéis diferentes por diversos motivos, o que inclui também pressão social.

Apesar de parecer frio e leviano, muitas vezes as nossas dores nada mais são que uma maneira de reviver um passado antigo de carência, que é reforçado pelo medo e pela exclusão social. Vivemos em um mundo excessivamente competitivo, onde a solidariedade é cada vez menos valorizada, e somos vítimas também disso.

Por um aspecto bem freudiano, podemos dizer que o capacitado para amar já venceu os obstáculos e traumas familiares e está livre da mágoa da falta de atenção dos pais. Isso é válido para projetos em geral, romance, trabalho, tudo.

Sem este “espírito livre”, o emocional se prende a histórias de dor e sofrimento limitando a coragem, atrelando as histórias passadas à dor e ao sofrimento e impedem relações verdadeiras de entrega, de doação, sem os elementos egoístas e mesquinhos.

A questão da solidariedade, que é tão importante socialmente e deve ser fortalecida, é também importante em menor escala, seja em um desenvolvimento de um projeto ou em uma relação a dois, do tipo romântica. Nossa sociedade (leia-se capitalista), tende a nos manter na infelicidade, pois nela a ilusão do consumo, tão necessária à manutenção do sistema se mantém forte e conseqüentemente, nos mantém infelizes. Nem sei se vale a pena questionar se isso é ou não proposital, e em outro momento, talvez eu desenvolva a idéia de como isso ocorro, porém é fato que pessoas insatisfeitas desenvolvem maior ansiedade, e neste estado são melhores consumistas desta maneira tentando compensar sua infelicidade, sua inferioridade e carência.

"As boas ações elevam o espírito e predispõem-no a praticar outras." Jean-Paul Sartre

Aquele que falha, perde algo, alguém, acaba necessitando de realização no trabalho, de adquirir algum produto, de alguma forma mostrando que em determinada área ele “pode”, ele é “sucesso”.

Além do capitalismo que tanto complica a vida afetiva das pessoas, sem desenvolver, quero também lembrar que a religiosidade é também elemento negativo na vida e desenvolvimento do ser humano.

Especificamente dentro do tema, a religiosidade tira a responsabilidade do humanos com coisas como: “deus quis assim” e outras semelhantes. Devemos admitir nossos erros, lidar com eles, transformá-los em coisas boas, sentir a culpa real e não pegar “culpas” inexistentes para lutar com elas.

O psicólogo Wilhelm Reich diz que a busca pela perfeição nas relações é na verdade o medo da entrega e que este medo se fundamenta em uma máscara de tédio e cansaço na construção de relacionamentos. Ele batizou tal tipo de relação de “peste emocional”, onde o sofrimento é uma repressão imposta pela sociedade.

Podemos associar (e devemos) que a entrega está sim nos relacionamentos amorosos, mas que estes não são somente os entre casais, mas também em todo o tipo de relação, seja com amigos, projetos, trabalho, etc.

"Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão." Jean-Paul Sartre
Freud também fundamentava nossas emoções e reações em sexo, então podemos dizer que “viver é foda”, e realmente é. O mais triste é notar que “ainda vivemos como Belchior”, que as mudanças sociais não são tão possuem ainda uma emancipação suficiente para o século XXI, que a “revolução sexual” é um “fake” e que vivemos uma falsa liberalidade permeada por valores morais fortes, e que com todas as mudanças, o que mudou na verdade foi a compaixão, o companheirismo, a dedicação que antes existia para tudo e todos e também a disponibilidade, que apesar da tecnologia, é um artigo em extinção sendo trocado por um mundo frio e virtual.

Um dos problemas que podemos notar e admitir, é o fato de muitas pessoas gostarem do título de “mártir”, se anulando e apenas reclamando. As pessoas acabam se dedicando a coisas secundárias e materiais, sem troca de afetividade (aqui deve ser lido como carinho, atenção, afeto mesmo), e o mundo acaba sendo algo com formalidades e papéis determinados.

"Detesto as vítimas quando elas respeitam os seus carrascos." Jean-Paul Sartre

Novamente graças ao nosso sistema capitalista de vida, ressalto que as relações humanas sofrem e refletem as questões sociais e econômicas, onde estas invadem o mundo afetivo trazendo sensações de exclusão pessoal.

Miseravelmente, a religiosidade tem grande parcela de culpa nestes valores. Ela não traz respostas reais e práticas para as questões importantes, de alguma maneira quer transmitir a idéia de felicidade no além, mas não convence, então mesmo o religioso sofre com todas as questões econômicas e sociais como se não tivesse uma crença.

Devemos dispensar algum tempo para observar e avaliar se em um determinado relacionamento queremos viver troca de prazer ou usá-lo como cenário para reviver dramas passados, o que é uma atitude masoquista, porém real.

Um grande desafio é lidar com nosso passado e com as feridas que deixaram cicatrizes em nossa alma.

"Todos os homens têm medo. Quem não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem." Jean-Paul Sartre

Quais experiências vividas gostaríamos de reviver? E quais queremos esquecer? Um tipo de resposta nos predispõe a tentar algo novo, um outro tipo, a nos confinarmos em um mundo imaginário. Não é possível controlar o mundo e nem tudo é ou deve ser sempre igual.
"O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós." Jean-Paul Sartre
Freud “gostava” de sexo e neuroses, chega a ser maldosa a colocação desta maneira, mas ...

Ele cita “compulsão a repetição” um defeito de reviver eternamente um tipo de neurose, como se repetir determinado tipo de erro pudesse em algum momento fazer com que ele se tornasse um “acerto”. Não podemos negar que há pessoas que tentam a repetição de forma doentia, revivendo e repetindo certas experiências dolorosas sem compreender seu próprio erro. É quase como ser um jogador compulsivo, é incontrolável e muitas vezes inconsciente e está ligado a um complexo de inferioridade.

Devemos observar se estamos em algum sistema de repetição, e a partir daí, reagir ou procurar ajuda. Se você vive somente o prazer, você tem algum problema: ou é alienado, ou está se drogando. Porém, viver apenas a dor, o desprazer, você estará exacerbando a essência da vida em um outro campo, o que é também um erro.

Um grande medo do ser humano é a mescla da história de vida pessoal e afetiva, o que inclui traumas, fracassos, desamparo, com o julgamento do outro (da sociedade), e daí tentar obter o seu valor e amor próprios.

"O homem nasce livre, responsável e sem desculpas." Jean-Paul Sartre

“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o!” Nietzsche

Tadziu

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