terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

MEDO, SALVAÇÃO



Religiões tentam mostrar e ser o caminho da verdade, prometendo o perdão, a vida eterna, e fazem isso de diferentes maneiras e com vários artifícios, muitos deles danosos e extremamente alienantes.

O ser humano, felizmente ou infelizmente, é dotado da capacidade de optar, de grande egoísmo, muitas vezes pouco compreendido ou sublimado apenas em seu inconsciente, porém trazendo à tona as atitudes, muitas vezes sem ética alguma.

Pessoalmente acredito, que uma boa pessoa, um bom cidadão, simplesmente o é, não por ser motivado por ameaças de queimar no inferno, ou por promessas de vida eterna.

O lema de Sócrates “conhece-te a ti mesmo”, tem grande importância na compreensão das relações com as pessoas em sociedade e consigo mesmo. Somente o conhecimento geral, o auto-conhecimento, a razão, podem limitar um dos maiores problemas do ser humano, a hipocrisia.

Infelizmente, o homem é dotado de hipocrisia. Talvez este seja o fator mais importante que impede que os ensinamentos religiosos, passados apenas como obrigações, não sejam seguidos e não façam em média, alguém ser realmente melhor.

A hipocrisia é intrínseca, denota mentira, ausência de virtudes, falta de empatia e fingimento, e é muito facilmente notada nos outros, mas nem sempre em nós mesmos. Daí a necessidade de auto-conhecimento, de pensar, avaliar tudo, filosofar sem aceitar idéias prontas impostas geralmente por hipócritas ainda maiores.


“Qualquer um pode zangar-se - isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa - não é fácil.”


“Devemos nos comportar com os nossos amigos do mesmo modo que gostaríamos que eles se comportassem conosco.”


“A alma é a causa eficiente e o princípio organizador do corpo vivente.”


“A felicidade consiste em ações perfeitamente conformes à virtude, e entendemos por virtude não a virtude relativa, mas a virtude absoluta. Entendemos por virtude relativa a que diz respeito às coisas necessárias e por virtude absoluta a que tem por finalidade a beleza e a honestidade.”


“Quanto à virtude, não basta conhecê-la, devemos tentar também possuí-la e colocá-la em prática.”


Certamente, algumas ou todas as frases acima podem ser identificadas ou julgadas semelhantes a outras coisas que já foram lidas em outro lugar. Veja o autor na nota de rodapé.

Aristóteles nasceu em Estagira, na Calcídica (384 a.C. - 322 a.C.). Foi aluno de Platão (428/27–347 a.C.) e professor de Alexandre o Grande.

Voltando ainda um pouco, quero comentar sobre a palavra “alma”, tão utilizada por praticamente todas as religiões, e compreendida como algo ligado diretamente a um “deus”.

A palavra e o conceito são muito antigos, aparecem antes de Cristo e da maioria das religiões. Darei apenas uma pincelada no assunto, com filósofos de grande importância:

A análise de Aristóteles a divide em racional e irracional. A irracional existe também nos vegetais e animais, onde se considera também a nutritiva. A racional nos diferencia dos outros seres vivos e se divide também em duas: a intelectual e a moral, uma contemplativa e a outra é a vida ativa na polis.

Sócrates nada deixou escrito, então seu discípulo, Platão, nos deixa os registros de seu pensamento. Para Sócrates o movimento vem da alma, um poder não recebido do exterior. Em Fedro, diálogo de Platão, há o seguinte diálogo pronunciado por Sócrates:
"Cada corpo movido de fora é inanimado. O corpo movido de dentro é animado, pois que o movimento é a natureza da alma" (Fedon).

Vivemos no ocidente, e a maior influência que sofremos vem daí. De maneira alguma, devemos desprezar ensinamentos religiosos, pois fazem parte de nossa cultura, de nosso dia a dia, de nosso crescimento e amadurecimento, mas, apesar de pensar ser doloroso, e afastar-se daquilo que em teoria nos alenta, como a fé não ser fácil, há um mundo mais real, isento de mitos, onde podemos tentar uma felicidade mais plena e sem medo.

Outro grande problema com religiões, é a desunião que provocam. É quase uma disputa, como uma partida de futebol, ou um valor qualquer que é atribuído a um partido político.

Vejam:

Confúcio – filósofo chinês (551 a 479 a.C.) – “O que não quer que lhe façam, não faça aos outros.”

Hipócrates – “Pai da Medicina” (460 a 377 a.C.) – aconselhava os médicos: “transforme duas coisas em hábito – ajudar ou, pelo menos não fazer mal”.

Em Mateus 7,12 (Bíblia Cristã) : “Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles.

Em todas as religiões, encontraremos idéias e comportamentos esperados e desejáveis, porém muita hipocrisia, e muitos dirão que pelo fato de serem conduzidas pelo homem. Na verdade, o homem necessita de mais razão e atitude, menos medo e mais esperança.
Além do medo da punição, o medo da morte tem grande relevância quando pensamos em religião.

A morte é normalmente vista somente como a cessação de movimento, uma morte biológica. Nos esquecemos, que durante toda a vida, vivemos e sobrevivemos a pequenas mortes, e conseguimos ter e viver uma vida melhor, quando superamos os menos, ou viveremos atormentados e ansiosos em tempo integral.

Acreditar em um deus, é algo inquestionável, sem base alguma, fé é acreditar no místico, no incompreensível, é aceitar verdades e dogmas sem questionamento, sem necessidade de explicação. Não necessariamente a fé nos faz mudar por dentro, mudar a personalidade ou o caráter. Muitas vezes, dá apenas um “polimento”, que de maneira falsa, traz um novo pensamento sobre um determinado ser, somente por ele ter uma religião ou fé.

“Eles vieram com uma Bíblia e sua religião – roubaram nossa terra, esmagaram nosso espírito… e agora nos dizem que devemos ser agradecidos ao ‘Senhor’ por sermos salvos.” - Chefe Pontiac - Indígena americano, 1712-1769

São inúmeros os exemplos de coisas terríveis feitas em nome da fé, da religião. Ainda hoje muitas delas são atuais e ainda estão acontecendo. Podemos ir desde a “Santa Inquisição” que serviu ao interesse de poderosos, às crises no Oriente Médio entre outras, tudo em nome da fé.

"Imagine que não existe paraíso...
Imagine que não existem países...
Imagine que não existem religiões...
Acima de nós apenas o céu...
Você pode dizer que sou um sonhador...
...Mas não sou o único!" - John Lennon – Imagine

Um amigo me perguntou no ano passado, por que sempre acabávamos certas discussões com religião. Recentemente consegui uma conclusão, acho que até elementar:

O filósofo pensa, questiona, tenta conhecer o mundo, o caminho que este segue, tenta compreender a alma do homem, como torná-lo mais racional, como trazer ética para todas as atitudes, tenta ser lúcido, ter senso crítico, e pela graça de “deus”, o filósofo acaba sendo censurado, pois pode criar uma doutrina que pode salvar sem a ajuda de deus, o que faz dele uma ameaça.

Como pensava Epicuro, nascido em Samos em 341 a.C, “A representação vulgar do mundo, com seus deuses, o medo dos quais fez com que se cometessem os piores atos, é obstáculo à serenidade.”

Nenhum comentário: