segunda-feira, 8 de junho de 2009

COMO "USAR" A ESTÉTICA


Estamos no Século XXI, e ainda se compreende pelo senso comum que a Estética se limita a aparências externas onde não existe profundidade e onde a estética é meramente um gosto pessoal ou coletivo sem influencias mais importantes.

A Estética vem do grego e trata de sensação e percepção além de ser uma parte da filosofia que estuda a natureza do belo e os fundamentos da arte, onde são estudados os tipos de percepção daquilo que é belo e ainda como as emoções são produzidas. Estuda também aquilo que pode ser considerado feio ou ridículo.

Surge como um ramo significativo com o filósofo alemão Alexander Boumgarten (1714 – 1762) como um instrumento para nomear arte com base em criação da sensibilidade tendendo finalmente ao belo.

A Estética vem da Antiguidade grega e era aplicada a todas as formas de arte e evoluiu de maneira a refletir as sensações que provoca.

Atualmente é uma perspectiva fenomenológica onde não há um único valor estético (somente o belo) e o objeto passa a ter um tipo de beleza próprio, a partir de quem o julga, então o julgamento passa a ocorrer pela experiência e capacidade estética de avaliação de cada um.
Tratando do BELO, destacam-se dois fundamentos em especial:

A Estética iniciada como teoria, virou uma ciência normativa que utilizada lógica e moral – verdade, beleza, bondade. Passou a servir como julgamento de valores para normas gerais do belo, excedendo os objetos.

Adquiriu características da metafísica do belo, para buscar fontes originais do belo sensível: reflexo do que é cognitivo na matéria (Platão), expressão de sensível da idéia (Hegel), além de belo natural, belo arbitrário (do humano) entre outras.

Platão confinava o belo ao mundo das idéias, mantendo o bem e a verdade ligada à perfeição imutável.

Para Platão um juízo estético só é possível a partir de um ideal de beleza suprema e o belo é inseparável da beleza, do amor e do saber. O belo é o que possibilita levar o homem à perfeição e este buscaria cópias fieis e simulações para obter o belo, o que permanece assim até o século XVIII tendo flutuações maiores ou menores de ênfase na produção artística.

Aristóteles que foi discípulo de Platão modificou os conceitos e admitiu o belo a partir da realidade sensível, transformando o abstrato em concreto. A beleza aristotélica deixa de ser imutável ou eterna e passa a poder evoluir.

Aristóteles começa a romper com o belo ligado à perfeição e traz o belo para um mundo mundano onde a criação é humana.

Aristóteles traz evolução e permite novas perspectivas para o julgamento da produção artística de forma individual. Com ele o belo passa a ter critérios de equilíbrio, proporção, composição, ordenação e simetria. Seus conceitos ficaram por muito tempo engavetados e foram retomados no final da Idade Média.

Refutando ou concordando com ele, Kant é referencial em questões de estética e é sempre mencionado. Além da revolução copernicana ele trouxe outros temas à luz do debate. Até Kant o belo não podia ser compreendido pela razão e a arte era apreciada como prazer com o belo e a influência moral que causava na natureza humana.

O juízo estético para Kant vem do sentimento e é o intermédio entre razão e intelecto no homem. Segundo Kant não era possível existir regra teórica para construir o belo. Quando julgamos um objeto ele compreende algum principio geral ou está em alguma regra, e um juízo intelectual na regra não permite “inferir no que é belo”. O belo não depende de provas do intelecto, mas do senso de prazer que gera, então o belo surge de representações apreendidas sensivelmente.

Após Kant, temos Hegel que tende a retomar as idéias de Platão quando pensa o ideal de belo. Hegel diz: “a beleza só pode se exprimir na forma, porque ela só é manifestação exterior através do idealismo objetivo do ser vivente e se oferece à nossa intuição e contemplação sensíveis”.

Hegel traz conceitos espirituais e morais e julga o imaginário em formas atribuídas a deuses ou seres superiores transpondo a realidade dura da vida e projeta exemplos a serem seguidos. Para Hegel a beleza é a expressão máxima do IDEAL. O belo é espiritual e está no plano da imaginação do sujeito que julga a beleza.

Para Hegel os objetos considerados como belos o são por diversas razões, então ele considera o belo em si. “Não nos perturbam, portanto, as oposições entre os objetos qualificados de belos: estas oposições são afastadas, suprimidas (...). Nós começamos pelo belo como tal”. Acaba por determinar que “só é belo o que possui expressão artística”.

Há outras interpretações para estética, apreciações de outros filósofos, mas vamos mudar aqui para uma ESTÉTICA aplicada à vida diária. A Estética é uma reorganização não perene e vive em mudança permanente se renovando segundo a história, períodos, sendo uma reflexão da arte e diretamente influenciando e estimulando o avanço do pensamento.

Retomando um pensamento de Sêneca (4 a.C. — Roma, 65 d.C.) temos um conceito de necessidade de aprender a viver por toda a vida, e aprender a morrer. Ele apresenta ainda que o verdadeiro ócio só existe para quem tem disposição para a sabedoria e critica os que se desgastam durante toda a vida para ter um bom epitáfio.

O ócio é um “inimigo” criado como “pecado” para impedir as pessoas de pensar e se tornou instrumento capitalista para domínio e manipulação. Então, tenha algum ócio e pegue parte dele para pensar nos próximos conceitos (mas, o simples fato de conseguir algum ócio, já o fará pensar):

Não há como separar o humano da estética, pois esta é a nossa identidade (e a dos outros). A Estética é e está no dia a dia de nossa existência. Somos genéricos, somos humanos e somos estéticos; é como apreciamos os valores universais, é como nos colocamos perante as coisas e é nosso lado mais sensível e com menos limites.

A Estética é instrumento válido para compreender a sociedade e também indivíduos separadamente sendo socialmente ou individualmente por comportamentos e valores.

Atualmente em uma sociedade dita moderna, vivemos uma Estética universal e separada de outros aspectos de nossa existência, como nunca antes vivemos. Separamos força de trabalho dos meios de produção (conceitos marxistas) e o capital tão distanciado do trabalhador traz divisões sociais e junto uma ruptura no coração da humanidade.

A sabedoria e a apreciação estética tornou se divorciada do conhecimento e a ciência não é acessível a todos o que abala e compromete os valores que ficam contaminados pelas necessidades do capitalismo.

A estética assim surgiu agora como uma obrigatoriedade que nos leva ao consumo e é a única coisa real. A estética hoje é meio ou fim?

A Estética hoje traz marcas de beleza excedente, exacerbada e supérflua, e também subliminar de anúncios, influências de valores errados distorcidos, amor e ódio, sedução e medo em uma mistura confusa e perdida. Gera tensões de manipulação e delimita beleza e feiúra segundo valores necessários socialmente, que geralmente não são reais. Visa consumo, marcas, estética feminina tendendo para a anorexia, sentimentos bons sem lugar “útil”, preconceitos diversos, frustrações, violência, discursos perdidos e sem fundamento gerando vazios na verdade, mas ainda assim, nada escapa a estética.

Os elementos acima além de gerarem frustrações e dificuldades de convivência, trazem consigo o abuso da estética como valor de mercado o que transforma o valor da pessoa em si. Do individualismo assim gerado, surgem os estereótipos, o fingimento social e pessoal e daí também a solidão e o isolamento.

Continuamos a ter uma classe dominante que orienta o tipo ideal psicológico que devemos assumir. Não há uma verdade epistemológica ou um propósito político sério contra o pré estabelecimento de valores e juízos impostos pelo mercado, então os juízos estéticos possíveis são geralmente impostos e simplesmente aceitos.

Creio ter conseguido pincelar a importância da Estética, superando os conceitos mais simplórios de apreciação do belo e do feio e ter mostrado um instrumento a mais para a avaliação das pessoas em geral.

Tadziu

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